A Prefeitura de Maragogi e a Biofábrica de Corais – Startup de Biotecnologia e Restauração de Ecossistemas Recifais – se uniram para regenerar e tentar salvar os corais existentes na costa do município, localizado no Litoral Norte de Alagoas e integrante da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais.
Colônias inteiras sofrem, sobretudo, com o branqueamento provocado pelo aquecimento oceânico e a consequente morte desses organismos, dentre outros danos.
Para tentar reverter essa situação, foi firmado o Termo de Cooperação, assinado pelo prefeito de Maragogi, Fernando Sérgio Lira, e pelo CEO da Biofábrica de Corais, Rudã Fernandes. O acordo prevê a instalação de uma base de restauração de corais e a implantação do Programa de Restauração Recifal, no município.
“A perspectiva da Biofábrica de Corais em Maragogi é montar uma base de restauração e, com isso, fazer o trabalho de transplantação de corais, como também de educação ambiental e de integração, a médio prazo, com o turismo”, explica Fernandes, engenheiro de pesca com doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
De acordo com ele, o trabalho é semelhante ao já realizado pela startup em Porto de Galinhas, no município turístico de Ipojuca, em Pernambucano. Lá o processo de restauração de corais começou a ser desenvolvido em 2016. Desde então, foram obtidos resultados positivos, a exemplo do crescimento de 40%, em 90 dias, da espécie Millepora alcicornis e crescimento de 200%, em 150 dias, da espécie Mussismilia harttii.
Metodologia
Com metodologia e abordagem próprias, com pedido de patente acerca das tecnologias utilizadas, o processo de restauração consiste na coleta de corais enfermos, tombados no fundo do mar. Esses organismos são fragmentados e dispostos em mesas de cultivo.
Eles crescem saudáveis nos berçários durante meses. Após esta etapa, são transplantados a um ambiente degradado para que atue na recuperação da biodiversidade e repovoe a área. Os corais abrigam cerca de 65% dos peixes, favorecem a economia, por meio do turismo; protegem a costa de efeitos adversos como ventos, tempestades e o avanço do mar, dentre outros benefícios.
Como a iniciativa busca integrar as atividades científicas às econômicas em prol da restauração recifal, num segundo momento os turistas que desembarcarão em Maragogi serão incentivados a contribuir com o processo de recuperação da biodiversidade.
Isso já acontece em Porto de Galinhas, onde o “bioturista” participa das experiências regenerativas proporcionadas pela Biofábrica de Corais. Ele se torna “cientista por um dia” e pode até adotar um coral.
“Se a comunidade não tiver senso de pertencimento, não adianta a gente investir um mundo para salvar os corais, que são o nosso maior produto e que eu posso chamar até de floresta, uma floresta subaquática”, ponderou o prefeito Sérgio Lira, quando da assinatura do Termo de Cooperação, no dia 26 de abril.
Na oportunidade, foram lançados pela Secretaria Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico (Seturde) outros dois projetos: o Roteiro de Turismo de Experiência em São Bento e o Cadastro Único Digital dos Prestadores de Serviços Turísticos de Maragogi.
“Vamos aproveitar a nossa rede de contatos com Brasília para tentar reverter essa situação e dá percentual dessa arrecadação do ICMS Verde, de maneira perene, para incentivar pesquisas, exemplo da startup da Biofábrica de Corais”, acrescentou o prefeito de Maragogi.
O CEO da Biofábrica, entretanto, afirma que o trabalho em Maragogi é ainda mais desafiador, em comparação a Porto de Galinhas, devido à dimensão da área afetada pelo processo de branqueamento dos corais.
“Existem diversos pesquisadores fazendo vários mapeamentos aqui na região. Fiz um mergulho recente em Maragogi. Exemplares das espécies Millepora alcicornis e Millepora braziliensis (espécies de coral-de-fogo), mais de 90% do que eu vi, onde mergulhei num pequeno trecho, já estavam mortos, e os 10% restantes, branqueados. Então é um desafio bastante grande restaurar todos esses recifes de coral”, observou.
Estudo
Estudo realizado por pesquisadores do Peld Costa dos Corais Alagoas e Projeto Conservação Recifal (PCR), publicado na Frontiers in Marine Science, revela uma alta mortalidade de corais que chega em até 50% no caso de algumas espécies.
Conforme, o estudo, um conjunto recifal na costa de Maragogi registrou, em 2020, o maior acúmulo de estresse por calor da série histórica, que data de 1985, quando a metodologia de medição foi criada e os monitoramentos começaram.
O DHW (degree heating week), unidade que mede esse estresse, atingiu o nível 12 em maio de 2020 – quando marcações acima de 4 costumam causar branqueamento de 30% a 40% dos corais afetados.
Fernandes espera iniciar as atividades em Maragogi ainda neste semestre. Passo importante para começar os trabalhos foi dado com a assinatura do Termo de Cooperação.
Licença
Para desenvolver o projeto na APA Costa dos Corais – maior Unidade de Conservação Federal Marinha e Costeira do Brasil – Fernandes explica que a Biofábrica teve de receber a anuência do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por meio do SISBIO – sistema de atendimento à distância que permite a pesquisadores solicitarem autorizações para coleta de material biológico e para a realização de pesquisa em unidades de conservação federais e cavernas.
“Já temos a licença para fazer o trabalho de transplantação. Também submetemos a Biofábrica ao Conselho de Turismo e de Meio Ambiente do Município, que também aprovaram. Plantar corais, restaurar a natureza, é um processo caro e demorado. Então pra gente poder iniciar o trabalho era necessário esse Termo de Cooperação para determinar os canais de recursos que vão financiar a operação e iniciar”, concluiu.
Turismo regenerativo
Para a assessora de Promoção Turística e Sustentabilidade do Costa dos Corais Convention & Visitors Bureau (CCC&VB), a bióloga Roberta Carvalho, fomentar ações de recuperação dos corais é fundamental para a conservação desses ecossistemas recifais, ambientes fundamentais para o meio ambiente e o turismo da Costa dos Corais, que se utiliza deles como atrativos turísticos para atrair visitantes à região e desenvolver a economia local.
“Os recifes de coral do planeta vêm enfrentando diversas ameaças nos últimos anos, principalmente relacionadas ao aquecimento global e ao branqueamento, que podem levá-los à morte”, observou Roberta.
“Poder contar com o trabalho de startups como a Biofábrica de Corais para a restauração destes ambientes é essencial para recuperação e a conservação recifal, além de destacar uma outra forma de turismo, o regenerativo, um mecanismo de engajamento da sociedade para a cultura oceânica e emergência climática, colaborando com o desenvolvimento sustentável de umas das regiões mais importantes para o turismo nacional e que encontra-se dentro de uma das principais unidades de conservação do Brasil, a APA Costa dos Corais”, acrescentou.