“A obra de Julio Caio Vasconcelos é muito bem-vinda porque se dedica ao universo local, trazendo contribuições inestimáveis a um tema cada vez mais importante no estudo e no entendimento das raízes da sociedade brasileira, reconstruindo retalhos da história da escravidão”.
A apresentação faz parte do prefácio assinado por Laurentino Gomes, autor da trilogia Escravidão, sobre o livro “Escravidão em Viçosa”, de autoria do historiador e advogado alagoano Caio Vasconcelos.
A obra foi lançada recentemente nas redes sociais e teve boa aceitação, com quase todos os exemplares vendidos. O livro traz um roteiro sobre o período da escravidão em Viçosa, município a 86 km de Maceió, no Vale do Paraíba alagoano.
O trabalho foi divido em quatro capítulos: Panorama da escravidão no atual território de Viçosa, Cenas da escravidão, A abolição da escravatura na então Vila de Assembleia, e Um breve cenário após a escravidão em Viçosa; além de três anexos: O Camponez, Salve Mãe Preta das senzalas e Salve negro do Brasil. Salve treze de maio de 1888.
Em entrevista ao Alagoas Notícia Boa (ALNB), Caio Vasconcelos conta que a ideia de contribuir com o estudo da escravidão em Viçosa surgiu como consequência da pesquisa que fez para o livro “História Política de Viçosa”, ainda em 2018.
Naquela oportunidade, ele acompanhou em Viçosa o escritor Laurentino Gomes nas comunidades quilombolas Gurgumba e Sabalangá, além da Serra Dois Irmãos.
“Laurentino é um amigo que ganhei ao longo desses anos. Nosso primeiro contato foi ainda em 2018, quando o acompanhei em suas investidas em Viçosa para sua trilogia Escravidão. Ter meu trabalho prefaciado por Laurentino foi um reconhecimento de sua amizade, bem como da relevância do livro para o estudo da escravidão. Enfim, uma felicidade”, revela Caio.
Com a pretensão de resgatar documentos e fatos do regime escravocrata envolvendo a história local, ele conta que o estudo tornou-se possível após exploração em cartórios, institutos históricos e arquivos públicos, aliado a uma pesquisa bibliográfica especializada sobre o tema, um trabalho de persistência e garimpo.
O que mais chamou a atenção do autor foi a quantidade informações sobre o tema existentes em diversos acervos, que ainda eram inacessíveis aos estudiosos e leitores.
“A face ‘oculta’ de nossa história merece, por meio da função do social dos pesquisadores, ser democratizada, que abrange os maus tratos, a resistência negra, bem como os desdobramentos do período da escravidão”, destaca o historiador.
Zumbi
Na obra, Caio Vasconcelos cita o historiador viçosense Alfredo Brandão ao relatar que no século XVII, Viçosa abrigou parte do maior e mais importante quilombo das Américas, o de Palmares. Cita ainda uma Consulta do Conselho Ultramarino sobre a morte de Zumbi, encaminhada a El-Rei.
Esta informa que o chefe do Quilombo estava no “sumidouro que artificiosamente havia fabricado”, ao que tudo indica, como defende Brandão, na Serra dos Dois Irmãos, atual município de Viçosa.
“Outro importante acontecimento conecta a história do território de Viçosa com a luta dos escravizados. Após a guerra em Palmares, seu líder Zumbi (1655-1695) conseguiu escapar e refugiar-se na atual Serra dos Dois Irmãos durante mais de um ano. Somente em 1695, ‘um mulato’, mediante a sua alforria, entregou o local onde Zumbi estava escondido, sendo este capturado e morto em 20 de novembro do mesmo ano”, escreve Caio.
A obra também trata do surgimento, por volta de 1700, das povoações viçosenses com origens quilombolas: Sabalangá, Gurgumba e Mata Escura, sendo estas as mais antigas do município. As duas primeiras são comunidades remanescentes certificadas pela Fundação Palmares, informa o livro.
Democratizar fatos
Laurentino Gomes, no prefácio da obra, convida o leitor a estudar e a refletir sobre o que aconteceu durante o período da escravidão no Brasil, tema doloroso, repleto de sofrimento e crueldade.
“É um desafio que, 130 anos depois da Lei Áurea, o Brasil ainda não conseguiu resolver. Liberdade nunca significou, para o ex-escravos e seus descendentes, oportunidade de mobilidade social ou melhoria de vida. Nunca tiveram acesso a terras, bons empregos, moradias decentes, educação, assistência de saúde e outras oportunidades disponíveis para os brancos. Os resultados aparecem nas estatísticas a respeito da profunda e perigosa desigualdade no país”, pondera Laurentino.
Indagado pelo ALNB de que forma a sua obra pode contribuir para a resolução da herança escravocrata na sociedade brasileira, sobretudo em Alagoas, Caio responde: “Acredito que democratizando fatos do período da escravidão, o historiador faz com que os leitores reflitam sobre o processo de formação da atual sociedade e os efeitos que o regime escravocrata deixou, em especial nas desigualdades que ainda persistem em nosso estado”.
Sobre o autor
Julio Caio Vasconcelos é historiador, especialista em História de Alagoas (Ifal) e membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL).
Advogado, especialista em Direito Municipal (Cesmac), Direito Público (Legale) e mestre em Direito Público (Ufal), escreveu os livros: História Política de Viçosa, Anadia, Dr. Campello de Almeida e Autonomia Financeira Municipal e Gestão Consorciada.
O livro Escravidão em Viçosa pode ser obtido diretamente com o autor por meio do Whatsapp (82) 999272705. Valor do exemplar: R$ 40.