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Buenos Aires alagoana celebra Copa do Mundo e título de terra; entenda!

Trata-se do Assentamento do Incra, o 7° maior de Alagoas, situado na zona rural de Maragogi, Litoral Norte do Estado
Assentamento Buenos Aires foi criado em 2005 e fica a 28 km do centro da cidade turística, destino consagrado nacional e internacionalmente (foto: Lucas Ranieri)

Há uma semana, a Argentina batia a França nos pênaltis e arrebatava, pela terceira vez, a Copa do Mundo da Fifa. A festa tomou conta das ruas da capital portenha, onde mais de 5 milhões de pessoas festejaram a conquista. Por aqui, a Buenos Aires alagoana também comemorou o Mundial e está prestes a celebrar outro título ainda mais importante para os moradores: o de domínio.

Ficou confuso? O Alagoas Notícia Boa (ALNB) explica!

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A Buenos Aires em questão é o Assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), situado na zona rural de Maragogi, Litoral Norte de Alagoas. O núcleo rural foi criado em 27 de abril de 2005 e fica a 28 km do centro da cidade turística, destino consagrado nacional e internacionalmente.

Possui uma área de 1.643,93 hectares, com capacidade para 245 famílias e 189 assentados, quem têm na fruticultura o foco principal da produção, com destaque para o cultivo do abacaxi, maracujá, graviola e da cana. Em área, é o maior de Maragogi e o 7º do estado, segundo dados do Incra.

Buenos Aires tem na fruticultura o foco principal da sua produção, com destaque para o cultivo de abacaxi, maracujá graviola e cana (foto: Júnior Vasconcelos / cortesia)

O Assentamento herdou – assim como a maioria em Maragogi – o nome do antigo engenho de cana-de-açúcar Buenos Aires, cujas terras – após a falência da Usina Central Barreiros, em 1999 -, passaram a ser reivindicadas pelos movimentos sociais sem-terra, sendo adquirido pelo Incra, na modalidade compra e venda, em 17 de dezembro de 2004.

A indústria ficava no município pernambucano de Barreiros que, aliás, faz limite com Maragogi, na divisa com os dois estados.

Na torcida pelos “hermanos”

Não era de se estranhar, portanto, que o nome portenho do Assentamento acabasse por influenciar os moradores do Assentamento Buenos Aires a torcer pela Argentina na Copa do Mundo do Catar, sobretudo após a eliminação do Brasil para a Croácia, ainda nas quartas de finais.

“Rapaz, muita gente aqui torceu para a Argentina por causa que a gente é de Bueno Aires, mesmo! Já que o Brasil perdeu, então a gente torceu pela Argentina, pelo Messi, e fomos campeões!”, comemora o presidente do Assentamento, Bartolomeu Rufino da Silva, 53 anos, mais conhecido como “Beto”.

No Brasil ou na Argentina, o futebol é uma paixão. Não seria diferente na Buenos Aires alagoana.

Futebol é uma das paixões do Assentamento Buenos Aires (foto: cortesia / Júnior Vasconcelos)

“É um assentamento que gosta muito de futebol. Aqui temos dois times amadores, um veterano e outro juvenil. Durante a Copa, a gente se reuniu, fizemos bolão e muita gente torceu e apostou a favor da Argentina. Houve comemoração”, revelou o técnico agrícola Júnior Vasconcelos, 40, que também é assentado em Buenos Aires.

Indagado se torceu pelos “hermanos argentinos”, Vasconcelos reagiu rapidamente. “De forma nenhuma, sou patriota!”.

Título de domínio

Preferências e rivalidades futebolísticas à parte, o que une a todos na Buenos Aires alagoana num só sentimento de alegria é a conquista do título de domínio, também conhecido como título da terra. É quando o assentado passa a ter, de fato e de direito, a propriedade do imóvel rural. Antes disso, a terra pertence à União, representada pelo Incra.

“O título da terra é dignidade, é liberdade, porque Buenos Aires, por exemplo, é um assentamento de 18 anos. Então a gente estava num lote que ninguém era dono de nada. É como você estar em uma casa que não é sua, numa área produzindo que não é sua. Você tem apenas a concessão da terra”, disse Vasconcelos.

Vasconcelos: “Durante a Copa, a gente se reuniu, fizemos bolão e muita gente torceu e apostou a favor da Argentina”

“O assentado passa a ser o dono da terra. A gente era parceleiro, mas não era o dono. Era o sonho do agricultor ser o dono da sua terra”, resumiu Beto.

A solenidade de entrega dos títulos de domínio está agendada para a próxima quarta-feira (28), a partir das 14 horas, com as presenças do presidente nacional do Incra, Giuseppe Serra Seca Vieira; e do superintendente regional da autarquia em Alagoas, César Lira; como também do prefeito do município, Fernando Sérgio Lira; e de outras autoridades municipais e estaduais.

Além dos títulos de domínio, será inaugurada, durante a solenidade, a pavimentação em paralelepípedo da agrovila do Assentamento Buenos Aires.

Obras de pavimentação dos assentamentos Buenos Aires, Lemos e Samba serão inauguradas

A obra faz parte do conjunto de investimentos para a pavimentação de 59.366,34 m² em paralelepípedos das agrovilas contidas em 13 Projetos de Assentamento no município de Maragogi. O valor total investido, segundo o Incra, é de R$ 9.170.760,18.

Nesta quarta (28), também será inaugurada a pavimentação das agrovilas dos assentamentos Samba e Lemos.

“A Prefeitura de Maragogi também deu  a contrapartida dela, ajudou com terraplanagem, com máquinas e trabalho em todos os assentamentos. A gente deu uma complementação importante para essas obras do Incra, que são fantásticas para essas agrovilas. Em Buenos Aires, especificamente, vamos construir uma praça com um parque infantil. Estamos muito felizes, também, porque vamos entregar títulos da reforma agrária. Essas famílias estavam há muito tempo esperando esses títulos, que são títulos de propriedade para que possam produzir e trabalhar mais tranquilamente e possam conseguir, por exemplo, empréstimos junto a instituições financeiras; enfim, a terra passa a ser deles”, comemorou o prefeito Sérgio Lira.

O Engenho Buenos Aires

Consultado pelo Alagoas Notícia Boa (ALNB), Plínio Guimarães, professor do curso de Hospedagem do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), Campus Barreiros, encontrou referências sobre o Engenho Bueno Aires em “O Bangüê nas Alagoas: traços da influência do sistema econômico do engenho de açúcar na vida e na cultura regional”, de Manuel Diégues Júnior.

“O Engenho Buenos Aires, que originou o assentamento da Reforma Agrária com o mesmo nome, foi o primeiro engenho implantado em Alagoas, em Camaragibe. Segundo Diegues Junior (2006), o fundador foi Cristóvão Lins, ou Christopher Linz, conforme Dirceu Lindoso”, relatou Guimarães.

“O fundador do Engenho Buenos Aires recebeu as terras onde implantou o engenho como doação de uma sesmaria do donatário da capitania de Pernambuco. Isso aconteceu por volta de 1600, quando Cristóvão Lins realizou uma expedição nas proximidades da atual Região Norte do Estado de Alagoas, fixando-se por lá”, acrescentou, com base na pesquisa.

O Bangüê nas Alagoas, de Manuel Diégues Júnior

“Ainda conforme Diegues Junior (2006), o fundador do Engenho Buenos Aires também instalou, posteriormente, outros engenhos na região, como o Escurial, em Porto Calvo”.

Guimarães cita, ainda, Dirceu Lindoso (2000), que em seu livro “A Formação de Alagoas Boreal”, aponta que Christopher Linz e seu irmão, Sibald Linz, foram os colonizadores de Porto Calvo.

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