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Bobo Gaiato mantém viva tradição das máscaras de Mestre Gilberto, em Porto de Pedras

Bloco sai no sábado (01/03), a partir das 15 horas, com concentração em frente à Cadeia das Artes, Centro da cidade
Bloco desfila no sábado de Carnaval, em Porto de Pedras, inspirado na tradição do saudoso Mestre Gilberto (fotos: cortesia)

O Carnaval em Porto de Pedras, Litoral Norte de Alagoas, tem os sons, as cores e as alegrias de um passado rico em cultura e tradição. Quem assegura essa folia originalíssima é o Bloco Bobo Gaiato, que se espraia pelas estreitas ruas do município praiano desde 2019.

O desfile deste ano já tem data, horário e local certos: sábado (1º de março), a partir das 15 horas, com concentração em frente à Cadeia das Artes, Centro de Porto de Pedras. A animação é garantida pela orquestra de frevo Norte Show, do maestro Miguel, que puxará o bloco.

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E não para por aí. Ao final do trajeto, será promovido o Baile do Bobo no Coco, com o Mestre Jurandir Bozo e a Comunidade Azul, fazendo todos balançarem na batida ritmada e nos versos certeiros do coco alagoano.

Fundador e coordenador do Bobo Gaiato, Thiago Souza Santos conta que o bloco surgiu a partir da necessidade de rememorar e retomar uma das tradições mais disseminadas em um passado não tão distante: a feitoria das máscaras de papietagem e as brincadeiras dos bobos em Porto de Pedras.


Mestre Gilberto como inspiração

Foi em 2019 que Thiago, brincante de bobo na infância, reuniu amigos e familiares, colocou em prática a feitura das máscaras e botou o bloco na rua! Ele explica que a nomenclatura “Bobo Gaiato” remete a uma das características mais marcantes da brincadeira: engraçada, cômica e divertida.

“A maior inspiração para o surgimento do Bobo Gaiato foi o nosso Mestre Gilberto da Silva, do povoado Tatuamunha, em Porto de Pedras. Mestre Gilberto deu o aval para que existíssemos. Ele foi o único mascareiro que continuou a produzir máscaras quando todo mundo parou, ainda no início dos anos 2000”, recorda Thiago.

Foi em 2019 que Thiago, brincante de bobo na infância, reuniu amigos e familiares e botou o bloco na rua

“Mas, apesar do Mestre continuar a fazer as máscaras, estava faltando o bobo nas ruas. Por isso foi criado o bloco, para dar sentindo às máscaras e sua função festiva. A partir da criação do Bloco, surgiram novos mascareiros e mascareiras, trazendo esperança para manutenção e perpetuação da nossa tradição. Nosso Mestre faleceu em 2020, pouco tempo depois do surgimento do Bobo Gaiato. Nossa responsabilidade só aumentou”, acrescenta.

Integram o Bobo Gaiato jovens brincantes da cultura popular de Porto de Pedras. Além de mascareiros, são também dançarinos de cambindas e participantes do boi de carnaval, manifestações populares do período ainda preservadas no município. Dentre eles estão Thiago, Victão, Erick Amaral e André Ricardo.

“O Bobo Gaiato já está para além do bloco, vem construindo outras ações de salvaguarda das máscaras e dos bobos na cidade e no estado, como um todo. Isso acontece por meio da exibição de filme, exposições e festivais que irão acontecer ainda este ano”, anuncia Thiago.

Integram o Bobo Gaiato jovens brincantes da cultura popular de Porto de Pedras

Ele reforça ainda que uma das missões do Bobo Gaiato é justamente, além de celebrar o Carnaval, fortalecer a cultura mascareiras e a identidade cultural de Porto de Pedras, principalmente num tempo em que, cada vez mais, manifestações populares estão se perdendo.

Este ano, além do desfile, serão finalizadas as gravações do documentário “Reino dos Bobos: jornada das máscaras alagoanas”.

Máscaras

A produção das máscaras para o desfile do Bobo Gaiato começa 40 dias antes do Carnaval. Elas são diversas e representam animais, figuras imaginárias, pessoas, monumentos…

“Fazemos do mesmo modo que se fazia no século passado: pegamos o barro e dele se faz a forma. Após secar, começamos a cobrir com papel e cola feita de goma de mandioca e, após secagem novamente, desenformamos e fazemos o acabamento e pintura”, detalha Thiago.

Máscaras começam a ser produzidas 40 dias antes do Carnaval

Ele lembra que a tradição das máscaras está presente em uma diversidade de culturas diferentes mundo afora. Thiago observa, porém, que os bobos de Porto de Pedras são do início do século passado. Segundo ele, não se sabe ao certo, porém, como essa tradição chegou ao município.

“É possível, entretanto, identificar proximidades com outras manifestações em Alagoas e outros estados, como Pernambuco. Mas o que diferencia nossas máscaras é a estética. As máscaras de Porto de Pedras trazem mais cores e formas. Além da máscara facial, também temos os cabeções, que se descavam principalmente pelas mãos do Mestre Gilberto. Ele começou a fazer máscaras com 12 anos de idade, ainda na década de 1960, e aprendeu com outros mascareiros da cidade”, avalia.