Quando criança, a arquiteta Amanda Cristina até se divertia em companhia dos pais circulando pela feira-livre de Arapiraca uma vez por mês, mas o ápice de sua alegria era mesmo brincar no “cuscuz de mundiça”, um amontoado de cimento polido, que atraía a garotada que passava pela Praça da Prefeitura.
“A gente morava em São Sebastião. Meus pais faziam compras na cidade. Era a oportunidade de passear e brincar no cuscuz. Na verdade, a gente disputava espaço para escorregar. Havia criança de mais se divertindo bem próximo ao cuscuz. E ainda tinha um labirinto ao redor”, recorda-se, em entrevista ao ALNB.
Aglomerado de crianças
Ao cuscuz, a população incorporou o apelido de ‘mundiça’, referência ao aglomerado de crianças que lutavam para ter o melhor espaço no topo do brinquedo e, então, escorregar até a base. O objeto, projetado em algum ano da década de 1990, resistiu alegrando a meninada até 2009, quando foi demolido.
Era a principal atração de um parque ao ar livre – recorda-se o designer Fernando Lopes. Em seu lugar, há um anfiteatro coberto, que beneficia inclusive quem foi criança na década de 1990 e não perdia a oportunidade de se divertir ao redor do cuscuz mais famoso da cidade.
“Era uma das melhores atrações do parque. Tinha em seu centro uma torre de observação. Quem conseguia atingir o objetivo de chegar no meio do labirinto poderia desvendar toda sua “complexidade” e formar um mapa mental para sair com mais facilidade”, relembra Fernando Lopes.
Inesquecível cuscuz
O tempo foi passando, mas não se esqueceu do cuscuz. “Ele sempre esteve muito vivo na memória de quem foi criança na década de 1990”, explica Amanda Cristina, que se formou em Arquitetura e Urbanismo, em 2018, especializando-se em mobilidade urbana para a primeira infância.
Ela já vivia em Arapiraca quando passou a fazer parte do Departamento de Urbanismo da Prefeitura do município. Surgiu, então, a oportunidade de projetar reformas de praças e espaços infantis em prédios públicos. Que fez? Resgatou o brinquedo que lhe deixava super feliz.
“Quero que as crianças de hoje tenham a oportunidade de ter a lembrança que tenho dos tempos de criança. Projetei um cuscuz pequeno e colorido na área livre de um CRAS. A ideia foi abraçada pelo prefeito e pela secretária de desenvolvimento social”, explicou à reportagem do ALNB.
Cuscuz era nave espacial
O brinquedo – ou ‘cuscuz de mundicinha”, como já o apelidaram – é colorido e realmente se parece com cuscuz. É que o original, explica amanda Cristina, foi projetado como nave espacial, mas a garotada não o associou como um objeto voador não identificado. “Foi logo batizado de cuscuz”, explicou.
Especialista em Design de Interiores e mestranda pela Uneal em Dinâmicas Territoriais, Amanda se diz muito feliz com o impacto de seu projeto. “Disseram-me que a garotada já corre para brincar no cuscuz quando chega acompanhada dos pais”, comentou.
Casada e mãe do Ben, o garoto esperto de 4 anos, Amanda promete levá-lo para brincar no cuscuz, que tem outro diferencial em relação ao original. “Agora, temos um cuscuz com ovo”, comentou. Isso mesmo. Sua pintura contém gema e clara do ovo derretendo a partir do topo.
Uma delícia, não? Viva o cuscuz!