Em dezembro do ano passado, o pintor venezuelano Theidy Antônio Arocha Rodriguez, 52 anos, desembarcou em Maragogi. Seguindo o fluxo migratório de seus compatriotas que buscam melhores condições de vida no Brasil, ele cruzou a pé a fronteira até Roraima, no Norte do país.
Em Boa Vista, embarcou numa viagem de avião com passagens por Brasília, Salvador até chegar ao Recife, de onde partiu de carro até o município turístico alagoano, localizado no Litoral Norte do estado, a 130 km de Maceió.
“Todos sabem que a Venezuela é uma ditadura que acabou com a economia e que a utiliza como arma de guerra contra o povo. E se você não tem pra comer, muito menos para comprar um quadro. Então, eu vim para o Brasil porque minha família já estava aqui, em Maragogi. Já havia migrado há dois anos. Eu vendi tudo: minha casa, meu carro e vim pra cá”, conta “Tony Pintor”, como é mais conhecido em solo alagoano.
Aquarela
Aos poucos, pincelada após pincelada, a vida de Tony vai se reconstruindo, ganhando novas formas em cores vibrantes, mais alegres. Todas as noites, ele monta o seu ateliê ambulante no calçadão da orla marítima de Maragogi, onde produz e vende as suas telas aos turistas e nativos.
Em poucos meses, se apaixonou por Maragogi e dessa paixão arrebatadora vem a inspiração para pintar os seus quadros: as paisagens deslumbrantes do lugar. O quadro mais vendido retrata o “Caminho de Moisés”, atração turística localizada no distrito de Barra Grande.
Assim como na passagem bíblica, o mar se abre em uma passagem de areia que leva os turistas a um passeio mágico, oceano adentro, milagre genuíno da natureza que se opera na maré baixa.
“O Caminho de Moisés é uma beleza natural típica de Maragogi. Todos os turistas que chegam, querem levar uma lembrança daqui. Tenho muitos quadros bonitos, mas esse é o mais vendido”, revela Tony.
“Aqui tudo se move ao redor do Caminho de Moisés. É uma atração turística muito conhecida em todo o Brasil e no mundo. Todos que chegam a Maragogi querem conhecê-la”, completa.
Reminiscência
Além do Caminho de Moisés, Tony pinta paisagens como rios, os manguezais e araras. As aves multicoloridas são uma reminiscência da Amazônia Venezuelana, que ele carrega em suas memórias afetivas.
Tony conta que começou a pintar ainda muito pequeno, com 12 anos idade. Mais tarde, estudou na Escola de Artes Plásticas Cristóbal Rojas, em Caracas, capital da Venezuela. Utiliza-se da técnica da pintura a óleo para as suas produções.
“Tenho 40 anos como artista. Fui avançando pouco a pouco. Estou feliz aqui, claro! Brasil é o melhor país do mundo. Ademais, Brasil é o único país da América Latina realmente preparado para receber imigrantes. Por exemplo: aqui em Maragogi, a Assistência Social me mandou, junto com a minha família, a Maceió para providenciar toda a nossa documentação na Receita Federal e na Polícia Federal. Aqui nossos filhos têm a oportunidade de seguir adiante, estudar”, afirma.
Desde 2017, mais de um milhão de venezuelanos cruzaram a fronteira em direção ao Brasil. Desse total, 53% permanecem em território brasileiro. Os números são da Operação Acolhida, uma resposta humanitária do Governo Federal para o fluxo migratório intenso de venezuelanos na fronteira entre os dois países.