Mais de 200 crianças e adolescentes, que moram na região da Ponta Grossa, em Maceió, participam de aulas gratuitas de judô, ministradas por professores voluntários. O projeto social é mantido pela Federação Alagoana de Esportes Colegiais (Faec). A iniciativa forma campeões e vem transformado a vida dos alunos, que passam a ter no esporte a base para a formação cidadã.
“Acreditamos que esporte e educação unidos formam a maior ferramenta de inclusão social e assim, buscamos oportunidades para os participantes”, disse o presidente da Faec e idealizador do projeto, Irã Cândido.
As aulas acontecem três vezes por semana no espaço cedido pela prefeitura de Maceió, na antiga sede da Guarda Municipal. Todo material é disponibilizado pela Faec. Qualquer pessoa, a partir dos 4 anos de idade, pode participar.
Formação
O projeto existe há 11 anos e tem formando judocas que ganham espaço no esporte local e nacional. Muitos são campeões norte-nordeste, campeões brasileiros e estaduais.
Além disso, a formação cidadã prepara os jovens para a vida. Vários alunos e alunas conseguiram ingressar em um curso superior, concluir os estudos graças à disciplina e conduta aprendidas durante o tempo que vivenciaram o projeto.
“O projeto começou quando eu fui dar um curso de defesa pessoal para integrantes da segurança pública. Durante o intervalo, em uma conversa informal, algumas pessoas que estavam participando disseram que tinham kimonos guardados em casa. Eu então pedi a doação dos kimonos para que pudesse iniciar o projeto”, recorda.
“Reunimos as crianças, conseguimos autorização dos pais e começamos os trabalhos. Isso foi em 2010. Muita coisa mudou, o espaço é maior, já são 202 jovens atendidos atualmente. Famílias inteiras têm treinado com a gente”, relembra Irã.
Mudança de ídolos
O projeto se tornou uma prova concreta de como o esporte pode mudar a realidade das pessoas, independente do meio social em que vivem. Irã conta que o judô deu nova direção na vida dos integrantes, mostrando uma nova realidade, com perspectivas melhores de futuro.
“No início eu fiz uma pesquisa simples com crianças das escolas municipais da região. Eram duas perguntas: quem é seu ídolo e por quê? E nós ficamos bem tristes com o resultado na época porque quase 93% dos estudantes entrevistados responderam que era um traficante da região. Apenas 4% responderam que era um parente. O restante citou artistas”, lembra.
“Nós ficamos bastante preocupados porque quando você consegue mudar o ídolo de uma criança, você consegue modificar o foco e o futuro dele”, arremata Irã.
Cinco anos depois, já com o projeto em plena atividade, as mesmas perguntas foram refeitas. As respostas mudaram. O traficante não foi mais citado e a resposta da maioria passou a ter um membro da família, seguindo de atletas como ídolos.
“Eles passaram a pesquisar sobre a rotina de um atleta, quantas horas de sono, quantas sessões de treino por semana. A gente conseguiu modificar o foco dessas crianças fazendo com tivessem metas de ser atleta universitário, buscar o sonho de ser um atleta olímpico”, comemora.