É do imortal da Academia Brasileira de Letras, Rui Barbosa (1849 -1923), um dos grandes pensadores brasileiros, a reflexão: “A morte não extingue, transforma; não aniquila, renova; não divorcia, aproxima”. E foi assim, tendo a morte como elemento transformador, que a servidora pública federal Maria do Socorro Correia Gusmão Lopes criou, em 2021, o projeto social Aluísio Lopes.
A iniciativa atende, por meio do voluntariado, a população em situação de rua de Maceió. Eles fazem a entrega de alimentos, produtos de higiene e desenvolvem ações em abrigos da capital.
“Nosso maior objetivo é transformar amor em ação. Sentimos que podemos ajudar a transformar um pouco o sofrimento de pessoas e, apesar de não resolvermos a situação de fome em que essas pessoas carentes se encontram, podemos levar um pouco de alento e conforto, além de carinho e gentileza”, relata Maria do Socorro.
Neste domingo (12), o projeto social Aluísio Lopes promove mais uma ação solidária nas praças de Maceió, a partir das 18h30. Voluntários farão a entrega, a pessoas em situação de rua, de 800 sanduiches de mortadela, 400 garrafinhas de água mineral, 400 biscoitos recheados, 400 bebidas achocolatadas, café, suco, bananas e kits de higiene.
O projeto social foi criado em 1º de maio de 2021, após a morte do empresário Aluísio Lopes, aos 58 anos de idade, em 7 de abril daquele ano.
“Foi uma grande perda para toda a família, porque Aluísio foi uma pessoa alegre, carismática e comunicativa, que sempre semeou o bem por onde passou. Sua vida de amor me inspirou e sua morte me trouxe grande reflexão a respeito de toda dor que sentia. Então pensei que teria duas opções: ou chorar ou transformar todo pranto em algo que fosse útil e levasse alento para outras pessoas, que também teriam dores iguais ou até maiores que a minha”, recorda Maria do Socorro.
Assim, em 1º de maio de 2021, ela, os pais, filhos, irmãos e sobrinhos fizeram a primeira ação do projeto, desenvolvida no Lar Santo Antônio de Pádua, de Frei José.
Pandemia
A pandemia exigiu que ações fossem aprimoradas e robustecidas. Além de alimento e amor, era necessário levar acolhimento.
“As pessoas passavam fome e muito abandono, então convoquei meus filhos e amigos para começarmos a fazer o itinerário pelas praças da cidade, a exemplo de outros projetos que existiam à época e que nos inspiraram, como o ‘Doe Amor’, no qual também sou voluntária”, recorda.
E o projeto não para de se aperfeiçoar. Atualmente está em fase de transformação para associação beneficente.
“Aperfeiçoamos nossas ações e hoje, além de atendermos pessoas em situação de rua, também visitamos alguns abrigos e fazemos ações com crianças, com pinturas em telas e brincadeiras, algumas atividades em restaurantes parceiros, como o Picolla Villa”, cita.
“Também incluímos, em nossas ações, o Banho Solidário na praça, com a parceria do projeto Banho Solidário, por meio da entrega de roupas limpas, cortes de cabelo com cabeleireiros parceiros, como o Studio Camilla Barros, serviços de manicure, muita música e amor”, acrescenta.
Ação
Neste domingo (12), os trabalhos se iniciam com as compras, por volta das 14 horas. Depois, os voluntários farão a separação dos itens e o preparo dos alimentos, que serão distribuídos a partir das 18h30.
“Seguiremos o itinerário: Praça dos Martírios, fundos do Mercado da Produção, Praça Deodoro, fundos da Praça da Cadeia, Praça Sinimbú, Jaraguá e Praça Dois Leões”, detalha.
Como contribuir
As pessoas podem colaborar com o projeto, por meio de doações dos itens que são entregues nas ruas. Os voluntários fazem o recolhimento do material, que também pode ser levado até os pontos de apoio. Há, ainda, as doações em dinheiro que podem ser feitas pelo PIX: [email protected].
“As pessoas que quiserem vivenciar essa experiência conosco podem entrar em contato pelo instagram do projeto: @projetoaluisiolopes”, convida Maria do Socorro.
Políticas públicas
Maria do Socorro acredita que oportunidades de trabalho e de reinserção social, acompanhadas pelo Poder Público, são imprescindíveis no atendimento às pessoas em situação de rua.
“Políticas públicas que ofereçam não só abrigos em que essas pessoas passem a noite, mas que ofereçam, ao amanhecer, um treinamento e uma oportunidade de trabalho; de se sentirem úteis e de produzirem são essenciais”, considera.
Enquanto isso, Maria, que tem Socorro no nome, vai fazendo sua parte, ajudada por outros braços e corações solidários, em forma de gente.
“Penso que todas as pessoas trazem dentro de si uma significativa parcela de solidariedade e querem doar seu tempo em fazer o bem, porque compreendem, de uma forma ou de outra, que doar um pouco do seu tempo a quem nada pode retribuir é a melhor sensação que podem sentir e proporcionar aos outros. O amor em ação faz milagres em nossa própria vida e na de outras pessoas. Não há quem passe pela experiência de se doar sem sair tocado”, finaliza.