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Patroas na direção: motoristas autônomas criam serviço feito por mulheres e para mulheres

Grupo foi fundado em janeiro de 2023, em Maceió, e já conta com uma carteira com mais de mil clientes
Eduarda e Sergir integram o grupo desde a fundação, em janeiro de 2023 (fotos: Severino Carvalho)

A flor de lótus que carregam adesivada no para-brisa do carro é mais do que uma logomarca, representa o renascimento de um grupo de mulheres que largou ou perdeu o emprego formal e hoje conduz, ao volante, seus próprios destinos.

“O significado da flor de lótus é que ela surge no meio do caos, ela floresce no meio da lama; transmite a beleza no meio de tanta adversidade”, explica Sergirleine Ferreira de Queiroz, a “Sergir”, uma das 12 integrantes do Patroas: Grupo de Mulheres Motoristas Particulares.

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O negócio surgiu em janeiro de 2023 em Maceió e hoje já conta com uma carteira de clientes com mais de mil mulheres. Sim, trata-se de um serviço personalizado de transporte feito por elas e para elas.

O Patroas oferece viagens e entregas de mercadorias acionadas por clientes, todas mulheres, que integram dois grupos de WhatsApp, criados pelas empreendedoras.

Elas transportam crianças para aulas de reforço, idosos ao médico, pets para o veterinário; fazem a entrega de itens de luxo ou de um prosaico bolo de casamento, que precisa chegar intacto ao destino para a felicidade dos noivos.

Sergir mostra a flor de lótus: renascimento

“Tenho clientes de 7 anos de idade, 8 anos de idade, que nos são confiados por suas mães e dispensam até a babá. Levo à aula de reforço uma criança que, outro dia, a professora atrasou dez minutos. Ele ficou comigo no carro, aguardando, tranquilo, até a chegada dela”, conta Maria Eduarda do Espírito Santo, que também integra o grupo.

“Esse cuidado é algo que só uma mulher tem, entendeu? Principalmente quem é mãe”, ressalta Sergir.

A partida

Foi no dia a dia, rodando em Maceió como motoristas por aplicativo, que elas sentiram a necessidade de oferecer um serviço diferenciado às clientes e que também garantisse mais lucro e segurança às profissionais do volante.

Pode até parecer clichê, mas se trata aqui de uma estratégia de “ganha-ganha”, de “uma via de mão dupla”. As motoristas se protegem das violências com clientes fixas e conhecidas; e quem contrata tem a certeza de que o serviço vai ser entregue conforme o combinado.

“O aplicativo lhe dá a oportunidade de trabalhar, mas para que você se mantenha, é desumano. Tem de trabalhar 12, 13 horas por dia para poder obter, diariamente, a sua meta. E com os nossos serviços, não” compara Eduarda.

“A gente cobra R$3,50 pelo quilômetro rodado. Temos uma tabela com os valores, tudo fica exposto na descrição do grupo de forma transparente”, acrescenta Sergir, lembrando que a plataforma de captação e de interação é o aplicativo de mensagens WhatsApp.

“Você faz a solicitação: ‘estou precisando de uma viagem no horário tal, do bairro tal para o bairro tal’. A motorista disponível vai sinalizar no grupo para realizar esse serviço e entrará em contato, no privado da cliente, para que se obtenha todas as informações com precisão”, pontua Sergir.

Como medida extra de segurança, elas informam que os veículos do grupo também possuem sistema de rádio, em que todas estão interligadas em tempo real; e de rastreamento / monitoramento.

Motor de transformação

Eduarda e Sergir estão no grupo desde a fundação. Gestora de Recursos Humanos, Eduarda decidiu deixar o emprego numa administradora de condomínio, incomodada com a falta de perspectiva de crescimento dentro do quadro funcional da empresa.

“Foi uma opção sair, né? Eu fiz um acordo, tudo certo, direitinho, e já tinha em mente (ser motorista); juntei uma grana e comprei o carro. Então foi opção mesmo ser motorista de aplicativo”, confessa.

Com a flexibilidade de horários, passaria a gerenciar melhor o tempo e a intensificar os estudos com vistas à aprovação em um concurso público. Mas aí veio a pandemia.

“Nesse meio tempo, além do aplicativo, eu montei o Gelados Gourmets. Passei a pandemia praticamente toda com as vendas do geladinho e o aplicativo”, recorda Eduarda. Hoje, tanto ela como Sergir têm no Grupo Patroas, como motoristas autônomas, a principal fonte de renda.

Eduarda pediu demissão para ser motorista autônoma: “Juntei uma grana e comprei o carro”

Para a turismóloga Sergir, a pandemia trouxe desafios ainda maiores. Embora não atuasse na área de formação, ela perdeu o emprego como vendedora numa loja de artigos de luxo. Decidiu então ser motorista por aplicativo.

“Na época da pandemia, eu fiquei fora do mercado de trabalho, porque a demanda das vendas realmente diminuiu, e eu trabalhava com o mercado de luxo. Aí, nessa necessidade, eu entrei nesse ramo (motorista por aplicativo), e fui vendo que era muito necessário esse serviço diferenciado que oferecemos hoje”, conta Sergir.

Conversando entre elas, perceberam que ser mulher num ramo ainda majoritariamente masculino seria uma vantagem, um diferencial, e então tiveram a ideia de montar o grupo.

“Não tem como a gente dizer que (a ideia) surgiu diretamente de tal fonte ou pessoa, porque foi uma construção de todas, na verdade, que fazem parte hoje ou que já fizeram parte do grupo no passado. A gente viu essa necessidade pelos aplicativos: as clientes solicitando e agradecendo às motoristas pelo serviço e destacando o fato de sermos mulheres”, revela Eduarda.

E o negócio começou justamente com as clientes de Sergir. “Ela tinha muitas da época da loja e acabava passando pra gente, como motorista, esses contatos. E aí a gente criou o grupo, inicialmente, através das clientes dela. Então existia uma necessidade, um grupo e uma forma de captar essas clientes”, lembra Eduarda.

Não estacionar

Março chega ao fim e nos últimos dias do Mês da Mulher, Eduarda deixa uma mensagem cuja validade é para a vida toda, e que tem a ver com a sororidade, sentimento e ações de irmandade, união, empatia e solidariedade entre as mulheres.

“Que nunca desistam do seu sonho, do seu objetivo. É de pouquinho em pouquinho que a gente chega lá. É importante também, e sempre, ter uma rede de apoio. Além de não desistir de si mesma, ter uma rede de apoio de outras mulheres que incentivem e que pensem igual, que queiram crescer juntas. Acho que isso é o mais importante”, considera.

Seguir adiante

Olhar pelo retrovisor e enxergar os desafios superados até aqui é importante nessa jornada, mas elas querem seguir em frente e já vislumbram, através do para-brisa, novas possibilidades.

Estão formalizadas como MEI (Microempreendedora Individual) e pensam em criar uma associação ou cooperativa. Outro objetivo é desenvolver um aplicativo próprio para melhor gerir o negócio, sobretudo otimizar os agendamentos para as viagens.

“Eu acredito que somos gigantes. As pessoas escolhem a gente não pelo valor. Porque o nosso valor é maior. É pelo que a gente oferece”, pondera Eduarda.

O olhar adiante de Sergir: “Esse cuidado é algo que só uma mulher tem, entendeu?”

Os feedbacks (avaliações) das clientes aquecem o coração e dão impulso para que as empreendedoras sigam em frente.

“Muito bom poder contar com vocês. Tenho um casal e sempre fico apreensiva em deixar minha filha pegar o carro por aplicativo sozinha. Agora achamos a solução”, relata uma mãe, cliente das Patroas.

“Sou mãe de criança e adolescente. Já utilizamos o serviço. Fico tranquila”, diz outra.

Serviço

Patroas: Grupo de Mulheres Motoristas Particulares

Instragram: @patroasparticulares

Contato:

Maria Eduarda – (82) 99613-7665

Sergi Ferreira – (82) 99435-8854

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