A ideia surgiu no início da pandemia da Covid-19. Assim como milhões em torno do planeta, a comerciante Roseane de Oliveira Lima Plech viu-se obrigada a cerrar as portas do estabelecimento dela, localizado na Rua Batista Acioli, bairro do Jaraguá, em Maceió. Como o negócio foi considerado essencial, por vender material de construção e limpeza, o fechamento durou apenas 15 dias, tempo mais que suficiente para pensar não somente em si, mas no próximo.
Roseane falou com o marido sobre o propósito humanitário de criar um espaço em que as pessoas fossem motivadas a praticar a caridade e, ao mesmo tempo, os desamparados encontrassem, ali mesmo, assistência. E foi assim – em meio a um turbilhão de incertezas, aflições e mortes provocadas pela maior pandemia do século 21 – que surgiu a “feirinha” do “Quem tem, põe; quem não tem, pega”.
As placas com os dizeres ficam à mostra numa das entradas da loja. “Diante de toda a dificuldade, colocamos essas duas mesas aqui para poder ajudar os nossos irmãos que estavam também passando (por dificuldades), até em situações piores. De lá pra cá, a gente sempre deixa aqui as mesas com doações”, disse Roseane, enquanto ajeitava os sapatos e as roupas doadas sobre a mesa, na segunda-feira (2).
Naquela manhã, Elisângela Soares da Silva, 32 anos, acompanhou o abrir das portas. Ela saiu de Rio Largo logo cedinho, onde mora com o marido e quatro filhos menores de idade, em busca de alimentos e roupas. Encontrou mais do que isso.
“Se a pessoa precisar de uma ajuda, de qualquer coisa, ela está aqui para ajudar. Todo dia é o povo aqui pegando doação e ela não nega nada a ninguém. Tudo o que o povo manda, ela não esconde: bota tudo na mesa para o povo pegar com as suas próprias mãos”, agradeceu Elisângela, natural de Palmeira dos Índios.
A comerciante conta que, mesmo após o período mais crítico da pandemia, decidiu manter a iniciativa, diante das dificuldades econômicas da população. Pessoas em situação de rua, em vulnerabilidade social, e desempregados continuam a recorrer a feirinha diariamente.
“Pretendo continuar com a ação”, ressaltou. “Vejo a necessidade deles e tudo o que a gente coloca é de importância, porque, às vezes, a gente acha que aquilo não vai servir pra ninguém, mas serve”, observou Roseane.
“São moradores de rua e, também, pessoas que, mesmo tendo o seu emprego, ganhando o seu salário mínimo, já chegaram aqui na mesa me pedindo sapato, porque com o dinheiro que recebia não dava para comprar uma sandalinha”, lamentou.
Ela revela, entretanto, que as doações diminuíram bastante no pós-pandemia, sobretudo em forma de alimentos, maior necessidade dos que recorrem ao espaço montado pela comerciante.
“Só é passar aqui e deixar a sua doação na mesa ou passar aqui na loja. A gente recebe de bom coração. Cada um que possa ajudar, que faça a sua parte, como já tiveram outros que vieram aqui na mesa, acharam muito interessante, e disseram: ‘Vou fazer assim também’. Cada um fazendo uma parte, pode ajudar a mais pessoas”, conclamou Roseane.
Doações podem ser feitas na loja Gal Center, que fica localizada na Rua Batista Acioli, bairro do Jaraguá, em Maceió, das 8h às 17 horas. Mais informações: (82) 99930-9697 ou 9997-7292.