A artista visual alagoana Yara Pão descobriu e restaurou um painel em baixo relevo datado de 16 de setembro 1969, assinado por Manelito (Manoel Amorim de Miranda). O “tesouro perdido” estava oculto sob o mato e foi encontrado durante as reformas para construção da Creche Gigantinhos da Escola Cenecista, em Maceió. Ela acredita que a arte foi encomendada quando da construção da antiga Rodoviária da capital.
“Pra mim foi uma honra. Fiquei muito contente que a gente conseguiu preservar esse painel. Agora é torcer para que continue em pé e que, se caso venha acontecer outra reforma, seja preservado, porque é uma fagulha do passado e, querendo ou não, fala sobre a vida de uma forma geral”, disse Yara Pão em entrevista ao Alagoas Notícia Boa (ALNB).
Ela conta que a identificação do painel só foi possível porque a obra foi elaborada em baixo relevo, uma técnica da arte antiga, mas que também é contemporânea e possui a capacidade de resistir ao tempo, em comparação com a pintura em área externa, permitindo o sentido do tato.
“Eu fiquei em choque! Consegui identificar que havia uma assinatura, porque foi tudo (feito) em baixo relevo. Se fosse pintado, a gente não ia conseguir ter referência nenhuma, seria muito difícil. Mas depois que a gente limpou e pintou, conseguiu ver direitinho com eram os desenhos porque estavam lá, todos marcados. A gente só fez pintar por cima: onde havia baixo relevo, colocamos cor”, detalhou.
O painel elaborado por Manelito ilustra a força da cultura econômica de Alagoas à época: a cana-de-açúcar, a pecuária, o coqueiro, o algodão e, provavelmente, o arroz. Yara diz que ficou contente com a repercussão do vídeo que postou nas redes sociais.
Foi a partir dos comentários que descobriu que o artista seria filho de Manoel Simplício e Hermé de Miranda, proprietários do antigo hotel Atlântico, cuja parte da combalida estrutura desabou, em abril deste ano, e precisou ser demolido, na Avenida da Paz, em Maceió.
“Fiquei contente com a divulgação que o pessoal está fazendo e com os comentários, porque demonstra se tratar de uma preocupação coletiva. A gente não tem muito resgate, projetos acontecendo em relação a restauro, à manutenção das nossas memórias. É bem legal resgatar e dar visibilidade a esse artista, a história dele, a técnica utilizada”, conclui Yara Pão.