Maceió, AL

30°C
Clear sky

Kleiton Ferreira, o magistrado alagoano que desmanchou o estereótipo do juiz sisudo

Ele disse ao ALNB que não imaginava que o jeito leve e paciente de conduzir audiências pudesse impressionar os outros
Kleiton Ferreira: "Vindo da advocacia e de um ambiente hostil, eu encontrei na magistratura um local de realização. Isso me deu a oportunidade de trabalhar com leveza e paciência" (foto: arquivo pessoal)

Natural de Arapiraca, no Agreste alagoano, o juiz federal Kleiton Alves Ferreira “viralizou” nas redes sociais esta semana. Em vídeo durante teleaudiência na 9ª Vara da Justiça Federal, em Propriá (SE), ele sensibilizou a todos com a forma empática e humanizada como tratou Dona Maria Nair Santos, 74 anos.

A idosa buscava o direito de receber a pensão por morte do marido. O magistrado elogiou os “óculos estilosos” de dona Nair, brincou e relatou vivências familiares. Ao final da audiência, Kleiton Ferreira concedeu o benefício à requerente.

PUBLICIDADE


O Alagoas Notícia Boa (ALNB) conversou com o magistrado arapiraquense que desmanchou o estereótipo do juiz sisudo. Kleiton Ferreira revelou que não esperava tamanha repercussão do vídeo. Disse que não imaginava que o jeito leve e paciente de conduzir audiências pudesse impressionar os outros.

“Vindo da advocacia e de um ambiente hostil, eu encontrei na magistratura um local de realização. Isso me deu a oportunidade de trabalhar com leveza e paciência, coisas que se esperam da maioria dos profissionais. Daí que para mim sempre foi normal agir assim. É como se vê no espelho: a gente não se impressiona nunca com a própria imagem. Por isso que não fazia ideia de que meu jeito de conduzir audiências pudesse impressionar os outros”, contou o juiz ao ALNB.

Depois que percebeu a movimentação em suas redes sociais, onde compartilha um pouco da sua rotina de trabalho, o juiz foi em busca de possíveis causas para a repercussão do vídeo.

“A verdade é que a pandemia descortinou parte do Judiciário, de alguns juízes (poucos) que conduzem audiências com brutalidade e grosseria. Esses episódios causaram um espanto geral nas pessoas, reforçando ainda mais o estereótipo do juiz do martelo, tal qual os juízes de tribunais norte-americanos em que é preciso pedir permissão para se aproximar. Eu me apresentei como oposto, e isso causou o contraste”, avalia Kleiton Ferreira.

“Por outro lado, se está faltando sensibilidade no judiciário, o problema não é só de juízes e juízas, mas de um sistema abarrotado de processos. Enquanto nos EUA há 4 milhões de processos, aqui temos mais de 100 milhões”, pondera.

Equilíbrio

Para ele, a Justiça brasileira, como toda instituição, tem muito a melhorar.

“Mas em primeiro lugar deve haver um equilíbrio entre as carreiras públicas, tanto do ponto de vista dos deveres e obrigações, quanto das prerrogativas, remuneração e vantagens. Falo por mim: a Justiça Federal tem hoje uma das menores remunerações entre todas as carreiras jurídicas públicas”, destaca.

“Por outro lado, juízes e juízas federais das varas de cobrança de tributos são responsáveis por arrecadar um valor maior que o gasto para manter toda Justiça Federal, e ainda sobra dinheiro. Juízes e juízas federais que lidam com casos de previdência são responsáveis por injetar recursos em cidades pequenas onde a economia se baseia praticamente em pensões e aposentadorias. Juízes e juízas federais são responsáveis por lidarem com crime organizado internacional do tráfico de drogas e de pessoas, inclusive crianças, muitas vezes transferindo presos e bloqueando os bens e rendas que voltam para sociedade”, afirma.

O magistrado também é escritor, autor de “Crônicas de um Mentiroso” e “Contos e Espiritus Erectus, disponíveis na Amazon, em e-book.