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Compostos de alga marinha podem combater esquistossomose

Foi o que identificou uma pesquisa do Butantan publicada na revista Marine Drugs; doença é conhecida como barriga d’água
O Elatol, o Rogiolol e o Obtusol demonstraram atividade significativa contra o parasita causador da doença, o Schistosoma mansoni, inibindo completamente a sua reprodução e a liberação dos ovos (fotos: Instituto Butantan)

Três compostos presentes em algas marinhas vermelhas da espécie Laurencia dendroidea podem ser os novos aliados no tratamento da esquistossomose. Foi o que identificou uma pesquisa do Instituto Butantan publicada na revista Marine Drugs. O Elatol, o Rogiolol e o Obtusol demonstraram atividade significativa contra o parasita causador da doença, o Schistosoma mansoni, inibindo completamente a sua reprodução e a liberação dos ovos.

A hipótese é que os compostos poderiam ser usados tanto no desenvolvimento de novos medicamentos quanto de pesticidas para controle ambiental da doença, que é transmitida para humanos por meio de caramujos infectados. O Instituto também estuda o desenvolvimento de uma vacina contra a esquistossomose.

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Segundo a diretora do Laboratório de Parasitologia do Butantan, Eliana Nakano, coordenadora do estudo desenvolvido em algas marinhas, as três substâncias (Elatol, Rogiolol e Obtusol) são metabólitos secundários produzidos pelas algas e fazem parte de seu mecanismo de defesa.

“As algas marinhas produzem metabólitos que têm halogênios na molécula, como cloro e bromo, elementos altamente reativos que conferem uma ação muito diferenciada. Após analisarmos mais de 40 espécies de algas em uma etapa anterior, vimos que a Laurencia dendroidea tem compostos com alta atividade antiparasitária”, explica.

No atual estudo, os compostos foram testados diretamente nos vermes adultos e todos induziram 100% de separação dos casais e inibiram totalmente a oviposição. O rogiolol foi o mais efetivo, matando 90% dos vermes expostos após 72 horas e 100% ao final da exposição de 96 horas. Já nas larvas do parasita que infectam o homem, os três compostos induziram 100% de mortalidade.

Os cientistas também testaram as substâncias em embriões de caramujo, hospedeiro intermediário da doença, resultando em total mortalidade.

“O controle da esquistossomose pode ser feito tratando o indivíduo com o medicamento ou tratando o ambiente, usando moluscicidas para eliminar focos de caramujos infectados. Em geral, as duas medidas são recomendadas e usadas para controle”, diz Eliana.

Segundo a pesquisadora, após selecionar os compostos com melhor desempenho, o próximo passo é fazer alterações na estrutura química das moléculas para identificar quais são os grupos funcionais envolvidos na atividade antiparasitária, e assim sintetizar novas moléculas análogas com maior especificidade ao alvo.

Vacina

Além dessa pesquisa, o Butantan faz outros estudos relacionados ao combate à esquistossomose, inclusive sobre o possível desenvolvimento de uma vacina. Recentemente, um estudo mostrou que os macacos rhesus (Macaca mulata) são capazes de gerar anticorpos poderosos contra o parasita, ficando protegidos ao sofrerem uma segunda infecção.

A busca por medicamentos e pesticidas de origem natural têm sido cada vez mais explorada na ciência; além de serem, em geral, mais seguros, biodegradáveis e amplamente disponíveis na natureza, são uma fonte rica e diversificada de compostos potencialmente ativos.

Estudo desenvolvido por pesquisadores do Instituto Butantan foi publicado na revista Marine Drugs

No caso da esquistossomose, é importante procurar alternativas para o tratamento, porque só existe um fármaco contra a doença, o que facilita o aparecimento de linhagens resistentes do parasita.

“O praziquantel é usado há mais de 40 anos e já foi e tem sido administrado em milhões de pessoas. Além disso, o medicamento é aplicado não só no tratamento da doença humana, mas também em veterinária, aumentando o risco de surgirem parasitas resistentes”, aponta a cientista Eliana Nakano.

Sobre a esquistossomose

A esquistossomose, popularmente conhecida como “barriga d’água”, é uma doença parasitária causada pelo verme Schistosoma mansoni. A transmissão ocorre quando o indivíduo tem contato com água doce onde há caramujos infectados.

As larvas penetram a pele, se desenvolvem para a fase adulta após cerca de 30 dias e começam a colocar os ovos, que causam a doença em si. A fêmea pode colocar de 300 a 400 ovos por dia, porém menos da metade dos ovos é liberada pelas fezes – o restante fica retido nos tecidos do corpo, podendo causar uma série de problemas.

Inicialmente, podem aparecer alguns sintomas inespecíficos, como febre, dor abdominal e diarreia. Já na fase avançada da doença, podem ocorrer sangramentos, aumento do tamanho do baço, maior acúmulo de líquido no abdômen (chamado de “barriga d’água”) e veias dilatadas no esôfago.

Apesar de haver tratamento para a esquistossomose, não existe vacina, e cerca de 1,5 milhão de pessoas vivem em áreas com risco de contrair a doença. Algumas regiões brasileiras são endêmicas por falta de saneamento básico, incluindo os estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, Espírito Santo e Minas Gerais.

Fonte: Instituto Butantan