A vasta obra do fotógrafo alagoano Augusto César de Malta Campos (1864-1957) sobre o Rio de Janeiro inspirou, um século depois, outro fotógrafo: o carioca Marcello Cavalcanti, 44 anos. No livro intitulado Augusto Malta Revival – lançado no ano passado e prestes a ganhar uma nova tiragem – Marcello reuniu 60 imagens da capital fluminense retratadas pelo alagoano, considerado o mais importante cronista fotográfico da Cidade Maravilhosa das primeiras décadas do século XX.
“Quando eu comecei a pesquisar mais a fundo as fotos do Rio antigo para fazer as fusões, o primeiro nome que me veio à cabeça foi o do Malta. Ele tem um trabalho muito vasto sobre o Rio de Janeiro”, revela Marcello, em entrevista ao Alagoas Notícia Boa (ALNB).
Com o auxílio de um programa gráfico, Marcello fez a sobreposição milimétrica com fotos tiradas por ele do Rio nos dias atuais, nos mesmos locais e ângulos captados por Augusto Malta do Rio antigo. O resultado é um projeto fotográfico que resgata a memória cultural, arquitetônica e afetiva do Rio de Janeiro, que testemunha as mudanças urbanas implementadas ao longo dos tempos.
“Eu estou revivendo as imagens do Augusto Malta. Ele (o livro) começou só como um projeto lúdico dez anos atrás. Eu comecei a coletar algumas imagens do Malta e a fazer essas montagens. Depois eu percebi que era um trabalho que poderia ganhar um corpo”, recorda Marcello.
Alagoano de Mata Grande
Augusto Malta era alagoano de Mata Grande. Chegou ao Rio de Janeiro aos 24 anos de idade. Vendeu uma bicicleta que possuía e comprou uma máquina fotográfica. Dali em diante não parou mais.
Foi contratado pela Prefeitura do Rio em 1903 como fotógrafo oficial e tirou mais de 80 mil fotos da Cidade Maravilhosa para documentar – segundo o site Brasiliana Fotográfica – a radical mudança urbanística promovida pelo então prefeito da cidade, Francisco Pereira Passos (1836-1913), período que ficou conhecido como o “bota-abaixo”.
Augusto Malta trabalhou na Prefeitura até 1936, quando se aposentou. De acordo com o site História de Alagoas, o fotógrafo alagoano usava equipamentos ainda do fim do século 19, mas recorria a chapas de vidro de maior sensibilidade.
“Todas as fotos do Malta que estão no projeto, eu refiz. Então não tem inteligência artificial envolvida, não tem drone envolvido. Todos os lugares onde eu fotografei, tive que ir lá fisicamente fotografar, porque ele também não usava drone, então não faz sentido eu apelar pra um drone”, argumenta Marcello.
“Há o trabalho de pesquisa em cima da imagem selecionada para ver onde e em que ano ela foi feita, o ângulo, a distância focal, quão longe ele estava daquele ponto, como conseguiu englobar tantos elementos na foto, o que eu preciso fazer para conseguir fazer a mesma coisa… Esse é o trabalho maior do projeto”, revela.
Quando a foto se encaixa, o “trabalho de máscara” é feito com o auxílio do programa Photoshop. Para ele, a parte mais divertida e criativa do projeto.
“Porque aí eu consigo, entre aspas, ‘brincar de Deus’. Eu vou apagando coisas, vou deixando umas, deletando outras. Então tem pessoas na rua: qual pessoa que eu vou desaparecer, qual que eu vou deixar? Às vezes acontecem coincidências das pessoas se olhando, pessoas que estão separadas por mais de 100 anos. Elas estão se olhando na imagem, aí eu deixo isso acontecer. Então essa é a parte mais criativa, digamos assim, do projeto”.
Transformação
O que mais impressionou Marcello ao fazer a junção das imagens, em termos de transformação urbana, foi observar o quanto o Rio de Janeiro cresceu verticalmente e como as ruas de hoje em dia – pasmem – são mais arborizadas do que as de antigamente.
“O Rio era muito baixo em termos de cidade. O casario tinha dois, três andares no máximo. A foto moderna vem com muitos prédios altos, muitas vezes tampando a paisagem que é tão bonita. Outra coisa também: o Rio era muito menos arborizado. Então a cidade tinha muito casario e pouca árvore nas ruas. Hoje é muito mais arborizado e isso é uma parte boa dessa evolução da cidade”, comenta.
Serviço
Livro: Augusto Malta Revival
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