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Primeira aluna com deficiência visual se forma em Pedagogia na Ufal

História de perseverança e amor pelo ensino fez Marisa concluir graduação com senso crítico às práticas pedagógicas
Marisa: “Se eu tivesse dado ouvidos ao que falavam, eu não teria terminado meu curso!" (foto: Ascom Ufal)

Marisa dos Santos Silva é a primeira pessoa com deficiência visual a concluir o curso de Pedagogia pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ela apresentou, no início do ano, o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitulado “Práticas pedagógicas para o aluno com deficiência visual”.

A paulista, criada em Pernambuco e radicada em Alagoas, nasceu com baixa visão. Sem muitos recursos, só conseguiu buscar tratamento aos 20 anos, quando já morava em Maceió.

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“Se eu tivesse dado ouvidos ao que falavam, eu não teria terminado meu curso! O meu sonho sempre foi ensinar. Eu queria ser pedagoga porque é por onde todas as profissões começam”, conta a mulher, que aos 49 anos já tem um longo histórico de prática de ensino.

Mesmo depois de perder totalmente a visão, Marisa seguiu com os estudos apoiada pela Escola Estadual de Cegos Cyro Accioly. Ela chegou à universidade após quatro tentativas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

“O que me fez não desistir foi o que eu estava aprendendo. Imagina se eu demonstrar para quem achava incapaz uma pessoa cega aprender a ler e escrever? Eu posso provar que sim. Uma pessoa cega é capaz de aprender igual a qualquer outro universitário. Isso me ajudou muito a não desistir”, disse, consciente de que o processo exige paciência e vale à pena!

Toda essa garra ela canalizou para o TCC, mirando num futuro como professora concursada. O trabalho intitulado “Práticas pedagógicas para o aluno com deficiência visual” foi feito em parceria com a aluna Alessandra Alves Aragão, que acreditou não só no potencial do tema como se juntou às pessoas que torciam pelo propósito de Marisa.

“Minha parceria com a Marisa foi de aprendizagem e crescimento pessoal e profissional na área da educação, de como trabalhar com uma pessoa com deficiência visual, e conhecer as dificuldade e desafios que ela já enfrentou em toda sua trajetória na educação regular e no ensino superior. E apesar de todas as dificuldades, desafios e barreiras encontradas, ela não desistiu dos seus objetivos”, disse Alessandra.

O TCC foi defendido no início do ano e coroa uma jornada pautada na superação de cada um que contribuiu um pouco pela pedagoga que Marisa se tornou.

“A Marisa é uma deficiente visual que não acredita de forma alguma que isso seja um empecilho para que ela possa aprender, conhecer, se desenvolver e crescer como ser humano e como profissional. Além disso, ela tem uma vontade muito grande de aprender para ensinar. Tem tudo a ver com o curso que ela escolheu”, afirmou o professor-orientador Marco Antônio Santos.

Tema

O tema escolhido para dar um desfecho à história de Marisa como graduanda na Ufal não poderia ser diferente. O TCC foi mais do que o acesso à vida profissional, foi um alerta para a necessidade de formação de professores e uso de materiais adequados para essa parcela da população de estudantes com necessidades especiais.

Logo quando chegou à graduação ela se deparou com um problema.

“Eles não sabiam como se comunicar comigo, eu tinha que repassar as informações para eles, explicar como era pra me ensinar. Eu pensei que eles já eram formados e já sabiam como lidar com deficiência, mas eles não sabiam ler braile e nem sempre o material era adaptado pra mim”.

Isso a fez refletir sobre como poderia contribuir para mudar de perspectiva. Seu orientador captou todas as expectativas dela.

“A Marisa tem uma consciência muito grande do status do processo de inclusão que hoje nós passamos. Todo esse processo vai desaguar numa visão, tanto minha como do orientador, como da orientada, e do corpo de docente e técnico do Cedu [Centro de Educação da Ufal] a enxergar um pouco mais esse processo de inclusão, e buscar novas condições para que nós possamos atender, dentro do que se pretende, a outras pessoas com deficiência, que querem apenas um lugar no espaço, como todos nós temos direito”, observou o professor.

“Marisa vai ser uma excelente professora, uma pessoa que vai descobrir e pesquisar novas alternativas, que vai estar sempre atenta ao processo de inclusão, e que vai ser uma pessoa que deve estender a mão a toda e qualquer pessoa que precise, deficiente ou não. Marisa aprendeu para ensinar, não há dúvida nenhuma nisso, e aprendeu de uma forma crítica, mas com a sensibilidade gigante”, projetou.

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