Rafaella Ramos acordou nesta segunda-feira (21), em Maceió, com a notícia que entristeceu o mundo: a morte de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, aos 88 anos, que comandava a Igreja Católica desde 2013. “A minha mãe ligou, e eu vi que ela tava ligando bastante. Eu acabei acordando, e aí ela me falou. Dei um pulo da cama”, conta.
Refeita do choque, logo a jornalista alagoana foi tomada pelas boas recordações vividas durante os 20 dias em que trabalhou na redação do Vatican News, canal de notícias oficial do Vaticano, entre outubro e novembro do ano passado. Experiência que guarda, sobretudo, para a vida profissional e espiritual. Rafaella conheceu pessoalmente o papa Francisco e recebeu a bênção do pontífice.
Para ela, uma das principais virtudes de Francisco foi conseguir tocar o coração de todos, independentemente do credo.
“O papa Francisco era uma pessoa assim: conseguia falar com todo mundo, independentemente de ser líder da Igreja Católica. Então eu acho que a gente precisa parar para prestar mais atenção em grandes líderes da humanidade, a exemplo dele”, pondera Rafaella.
Durante a permanência no Vaticano, a jornalista alagoana teve a oportunidade de conhecer pessoalmente o papa, durante uma reunião com cerca de 300 pessoas, entre membros do Vatican News. Uma frase do pontífice ficou latente: “A comunicação move o mundo”.
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Ao Alagoas Notícia Boa (ALNB), Rafaella fala da emoção vivida naquele momento, permeada pelo nervosismo de estar frente a frente com um dos papas mais progressistas e transformadores da Igreja Católica.
“Eu pedi para ele abençoar uma imagem que eu tenho de Nossa Senhora, que carrego comigo. E aí eu falei que era brasileira. Ele disse: ‘ah, você é brasileira, que legal!’ Aí abençoou a minha imagem e eu agradeci”, recorda.
Progressista e humano
Primeiro pontífice latino-americano, Bergoglio também foi o primeiro a adotar o nome de Francisco, inspirado no exemplo de simplicidade e humildade de São Francisco de Assis, desejando uma Igreja “pobre e para os pobres”.
O pontificado de Francisco foi marcado por uma postura progressista e humanista, em diversas áreas. Manifestou apoio à união civil para casais do mesmo sexo, inclusive autorizando a bênção destes, desde que não confundidas com o sacramento do matrimônio.
Criticou duramente o consumismo, a degradação ambiental e a mudança climática como consequência da exploração irresponsável do planeta. Chamou o negacionismo climático de “uma atitude suicida” e responsabilizou os países ricos pela destruição ambiental.
Francisco lavou os pés de refugiados muçulmanos, cristãos e hindus em uma cerimônia da Quinta-Feira Santa. Também visitou campos de refugiados e defendeu com veemência a acolhida de migrantes, afirmando que o fechamento de fronteiras é “um gesto de guerra”.
“Além de ele ter sido um papa muito humano, eu acredito que trouxe uma versão mais moderna para a Igreja Católica; de respeito, por exemplo, à união homoafetiva. E por mais que ele faça o papel de ser uma figura da Igreja Católica, que é mais conservadora, acho que foi um papa mais progressista, mais acolhedor, muito mais humano, sem dúvidas, até por ter sido franciscano”, conclui Rafaella, que atualmente é assessora de comunicação da Companhia de Edição, Impressão e Publicação de Alagoas (Cepal).
Nas redes sociais, ela escreveu: “Nunca estive diante de uma figura tão imponente — e, ao mesmo tempo, tão simples. Foram anos de coragem e progresso para a Igreja Católica. Francisco trouxe à tona temas delicados para a igreja, pregou misericórdia, perdão e escuta, e abriu mão dos luxos do Vaticano. Os vulneráveis ganharam voz. O Papa nos deixou na Páscoa, como se sua partida também fosse um ato de entrega e fé. Seu legado permanece. Francisco vive para sempre!”.