Maceió, AL

30°C
Clear sky

Jornalista alagoano lança o romance ‘A noite que vive no Rei’

Em entrevista ao Alagoas Notícia Boa, Victor Melo fala sobre a produção do livro, o jornalismo e a literatura
Obra de Victor Melo será apresentada ao público no dia 22 de abril, às 19 horas, no Villa Farol, em Maceió (fotos: divulgação)

O jornalista Victor Mélo ouviu, certo dia, enquanto trabalhava na redação, um conselho do imortal Lêdo Ivo: “Leia tudo o que puder antes de mexer com a literatura”. O ensinamento do escritor alagoano foi cumprido à risca e agora o primeiro livro está pronto e com data marcada para o lançamento: 22 de abril, uma terça-feira, às 19 horas, no Villa Farol, localizado na Avenida Dom Antônio Brandão, em Maceió.

O romance de fantasia “A noite que vive no Rei”, editora Patuá, é resultado de imersões literárias do jornalista alagoano Brasil afora. Ele revela que, ainda jovem, escreveu o esboço de um romance regionalista, sobre disputa política, mas sentiu que o tema estava raso.

PUBLICIDADE


Aproveitou, então, essa experiência para criar uma história mais profunda, com impacto filosófico. Victor conta que queria, assim, despertar o interesse dos jovens, ampliando o alcance da leitura.

“Nunca fui um grande leitor de fantasia, mas vi no gênero um desafio: explorar águas desconhecidas sem cair na armadilha dos clichês”, confessa Victor Mélo, em entrevista ao Alagoas Notícia Boa (ALNB).

“Para melhorar a costura da trama, fiz imersões na filosofia, na psicologia e até no teatro, inspirado por Camus, Nietzsche, Shakespeare, Suassuna… Minha intenção era abordar temas universais – uma história que poderia ser contada em qualquer tempo, passado, presente ou futuro –, sempre entrelaçando forças antagônicas: bem e mal, luz e sombra, vida e morte, ciência e superstição, ordem e caos”, detalha.

Sinopse

O livro conta a história do soldado Ramon Capitão. Ignorado em seu exército, ele é envolvido por lendas da noite e aceita o convite para fazer um pacto com forças sobrenaturais. O homem não oferece a alma, como é comum nesses rituais, mas quase todos os sentimentos. Somente a ambição pode guiar suas decisões.

Dentro de um cenário claustrofóbico, é tomado pela febre do poder e cria um império místico baseado no conflito. As glórias se sucedem, como prometido; contudo, na primeira derrota, Ramon começa a desconfiar da proteção sombria.

Paranoico, ele acredita que o seu exército será esfacelado na maior de todas as guerras se não houver uma aliança política com o reino de Margor. O líder tenta, às pressas, se aproximar da libertária Jordana; no entanto, a princesa não aceita um casamento arranjado, sem amor.

Ramon sofre novo revés. Na tentativa de conquistá-la, descumpre regras e começa a recuperar os sentimentos, um por um. Isso enfurece as sombras e ameaça os termos do pacto. O suspense dita o ritmo desse drama psicológico em que até o tempo e a percepção podem ser questionados.

No romance, a filosofia entrelaça os fios de cada capítulo, confrontando o poder da razão com as crenças que cercam a era medieval, descreve a sinopse.

O livro está em pré-venda e pode ser adquirido no site da editora Patuá, clicando aqui.

Divulgação

Fonte

Acostumado aos fatos diários, o ALNB quis saber do jornalista e escritor como foi lidar com o gênero romance. Victor Mélo respondeu com a precisão de repórter que jornalismo e literatura bebem da mesma fonte: a palavra.

“No meu caso, são duas paixões que andam por estradas diferentes, mas há um ponto de convergência. Sempre houve esse ponto de convergência. O jornalismo, por exemplo, ajuda na edição, na revisão de um romance como esse. As histórias que a gente ouve na redação, as matérias que a gente faz, também são importantes nas passagens de um livro, na construção, na criação de personagens”, pontua, destacando o ouvido aguçado do jornalista.

“São tantas matérias, tantas entrevistas, que você trabalha melhor os diálogos. Isso ajuda não só na literatura como no teatro também. Nelson Rodrigues, por exemplo, que é um dos maiores dramaturgos do Brasil, era jornalista. Na literatura, por exemplo, o Gabriel Garcia Marques era jornalista, e até colocava alguns capítulos do Cem Anos de Solidão para o público do jornal dele. Até como um teste para depois fechar o romance. Então, o batidão, a redação, ajuda o escritor”, completa.

Ele afirma, no entanto, que o contrário também é verdadeiro: a literatura é fundamental para o jornalista.

“Não só para escrever, mas, no caso, a leitura abre a cabeça das pessoas, muda até conceitos. E aguça a criatividade. E isso é muito importante no jornalismo. É difícil um profissional do jornalismo ter sucesso se ele não gosta de ler. Principalmente quem trabalha escrevendo, como é o meu caso. São 26 anos de profissão, sempre escrevendo, sempre trabalhando com o texto, a palavra escrita”, destaca Victor Mélo, alagoano de Maceió.

Amor à arte

O autor reflete que trabalhar com a literatura não é simples, exige, primeiramente, amor à arte, porque se trata de um esforço solitário, que demanda tempo.

“Às vezes você fica uma semana pensando no desfecho de um capítulo, e depois você precisa fazer uma ligação desse capítulo com o início do livro, com o fim; você precisa ter na cabeça o desfecho. Às vezes os personagens ganham vida: você não consegue mais dominá-los. Um personagem que estava fadado a um fim trágico escapa, outro que estava vivendo tranquilamente comete algum erro grave. E depois disso tudo, da parte criativa que a literatura exige, do esmero com a escrita, você precisa vender a história”, pontua.

Conseguir uma editora para autores e iniciantes, entretanto, ainda é muito complicado, alerta o escritor.

“Eu consegui a Patuá, uma editora independente, mas muito premiada. Ganhou alguns Jabutis, ganhou prêmio de literatura em São Paulo. Tem escritores renomados, inclusive o neto do Graciliano Ramos, Ricardo Ramos, escreve na Patuá; lançou um romance recentemente. Então aí você entra no mercado literário e precisa ser aceito. Precisa ter a chancela de uma editora. Você pode também fazer um trabalho independente, mas aí, exige mais recursos, são caminhos que você pode tomar, mas que não são caminhos simples”, pondera.

“Depois tem o processo nas redes sociais, de divulgação, as entrevistas, então tudo isso exige um grande esforço. Não é simples você entrar nesse meio e quem entra precisa estar de peito aberto para as críticas também, para enfrentar as dificuldades normais para quem trabalha com o público”, conclui.

PUBLICIDADE


Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.