Na semana em que se comemoram o Dia Internacional das Florestas (21) e o Dia Mundial da Água (22), a pequena Japaratinga, no Litoral Norte de Alagoas, dá um exemplo grandioso de sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente: a criação do Parque Municipal.
O projeto de lei é de autoria do Município, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, com auxílio da comunidade do Alto da Boa Vista. Foi aprovado pela Câmara de Vereadores em setembro do ano passado e sancionado pelo prefeito José Severino da Silva, o “Déo”.
De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente, José Wellinson Wanderlei Santos, o projeto encontra-se agora na fase de implantação, com a feitura do Estudo Topográfico e seguirá com as demais etapas: Levantamento Florestal e Plano de Melhoramento Ambiental, Levantamento de Fauna, dos Ativos Ambientais e Socioambientais.
Seguirá com a Avaliação dos Recursos Ambientais, do Impacto Ambiental e Análise D’água dos Corpos Hídricos, além da elaboração do Plano de Manejo. A previsão é de que o Parque Municipal seja efetivamente implantado o até o segundo semestre do próximo ano.
“Japaratinga dá um passo histórico em direção ao desenvolvimento sustentável. Com a assinatura da lei pelo prefeito, a criação de uma Unidade de Conservação (UC) do tipo Parque Municipal, o segundo do estado, se torna realidade. O que garante a preservação da biodiversidade, o fomento ao turismo ecológico e benefícios econômicos e sociais para os japaratinguenses”, considera José Wellinson.
De acordo com o secretário, a Unidade de Conservação de Proteção Integral contará com diferentes zonas, onde poderão ser aplicadas:
- Conservação da biodiversidade: proteção de espécies nativas e habitats críticos.
- Pesquisa científica: fomento à realização de pesquisas sobre a fauna, flora, ecossistemas e sua recuperação.
- Educação ambiental: promoção de atividades de educação e interpretação ambiental.
- Recreação em contato com a natureza: oferecimento de oportunidades para atividades de lazer como trilhas, observação de fauna e flora, e turismo de aventura.
- Desenvolvimento sustentável: contribuição para a economia local através do turismo sustentável.
Área
A área do Parque Municipal terá aproximadamente 80 hectares. Será implantado em parte do antigo loteamento praia de Japaratinga, informa o secretário.
“A localidade escolhida foi um encrave raro de cerrado, com fauna e flora únicas em Alagoas, sobretudo em Japaratinga. Os encraves de cerrado são pequenas ilhas de vegetação que podem ser encontradas nos Tabuleiros Costeiros e que apresentam fitofisionomia muito característica, de riqueza florística similar às áreas de Cerrado do Planalto Central. É um fragmento florestal de um bioma dentro de outro. A área também apresenta diversas nascentes e uma paisagem típica da região, coberta por belas falésias”, revela José Wellinson, que é graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária.
Ele conta que não será necessário a desapropriação de quaisquer áreas, pois boa parte do terreno será doada ou já pertence ao município. A criação da UC promete impactar positivamente a vida de mais de 10 mil cidadãos japaratinguenses e de milhares de outros moradores de municípios vizinhos.
Impactos positivos
O secretário de Meio Ambiente aponta os impactos positivos da criação do Parque Municipal de Japaratinga:
- Melhoria da qualidade de vida – o contato com a natureza promove saúde física e mental.
- O turismo sustentável – novas oportunidades de ecoturismo vão impulsionar a economia local.
- A educação ambiental – programas escolares poderão integrar a conservação ao aprendizado.
- O ICMS Verde – o município poderá receber incentivos financeiros por sua política ambiental.
- A proteção da biodiversidade – garantia da sobrevivência de espécies ameaçadas e a conservação dos recursos naturais.

“A criação da Unidade de Conservação também reforçará o sentimento de pertencimento, através de todo histórico do Município, pois o nome Japaratinga vem do tupi ‘Japaratuba’, e ainda ‘yapara-tyba’, que quer dizer ‘sítio dos arcos’. Por ali os índios produziram muitos arcos e flechas oriundos da vegetação presente na região, a qual vem sendo fortemente suprimida”, concluiu.
Destaca-se ainda o fato de Japaratinga já está inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, a maior Unidade de Conservação marinha costeira do Brasil, o que confere ao município uma dupla proteção aos recursos naturais por terra, mar, rios e estuários.
Caminho correto
Para a bióloga Flávia Moura, ativista ambiental, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), criar um parque na região é extremamente importante nesse momento em que o município litorâneo está sofrendo grande pressão de ocupação por conta do turismo e do setor imobiliário, com a construção de casas de segunda residência para veraneio.
“Criar uma Unidade de Conservação de Proteção Integral é extremamente importante, porque restam poucas áreas naquela região que sejam disponíveis para preservação. Ainda tem alguns fragmentos de mata, mas com a pressão imobiliária que está sofrendo naquela região, a gente tem um risco muito grande de perder áreas naturais”, alertou Flávia, que mantém em Japaratinga uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) com 18 hectares: a Reserva da Bica.
“A criação de um Parque Municipal é extremamente importante porque, além de conservar a vegetação e a fauna nativas, ainda pode servir para o turismo ecológico e para as atividades de educação ambiental”, reforçou.
A bióloga elogiou o trabalho de educação ambiental que vem sendo feito pela Prefeitura de Japaratinga e afirmou que a criação da Parque Municipal será um marco na história do município.
“É uma iniciativa completamente nova, é uma coisa pioneira para um município pequeno, que está sofrendo todo esse tipo de impacto, de pressão realmente, e está indo no caminho correto, que é o caminho de resguardar o que tem de mais precioso, que são os recursos naturais”, arrematou.