Desde menino, José Eduardo dos Santos Filho, de Flexeiras, tinha um sonho: ir à escola. No entanto, aos 14 anos, precisou interromper os estudos para trabalhar no setor sucroalcooleiro, onde fez um pouco de tudo, passando pelo corte de cana, análise química e emissão de notas fiscais.
Dessa forma, criou, com muito orgulho, a filha Renatha e mais dois netos. E foi justamente a filha que, anos depois, realizaria o desejo do pai de, aos 73 anos, voltar a estudar e concluir a escolaridade por meio do Programa Vem que dá Tempo e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Secretaria de Estado da Educação (Seduc).
Professora de língua portuguesa na Escola Estadual Padre Cabral, em Fernão Velho, Renatha de Carvalho Santos Morais sempre recebeu o incentivo do pai para investir nos estudos. Ele queria para a filha aquilo que a vida lhe negou.
“Quando comecei a cursar o Magistério na Escola Estadual Bom Conselho, em Bebedouro, ele mudava o seu horário de trabalho, pois fazia questão de me levar. Quando me formei em Letras, ele não conteve as lágrimas de emoção. Com os netos, é do mesmo jeito. Ao ver nosso sucesso, ele se sente realizado”, recorda, emocionada, Renatha.
Sonho
Quando o Programa Vem que dá Tempo chegou à Escola Estadual Padre Cabral, Renatha viu uma chance de realizar o sonho do pai de retomar os estudos.
A iniciativa oportuniza que jovens e adultos que interromperam os estudos possam se submeter a uma prova para a certificação de conclusão do ensino fundamental e também ganhar um benefício de R$ 500 se forem aprovados.
Este estudante, posteriormente, também é convidado a dar continuidade aos seus estudos na EJA Modular da rede estadual, onde concluirá o ensino médio em pouco mais de um ano.
Eduardo foi da primeira turma do Vem que dá Tempo na escola e, logo em seguida, matriculou-se na EJA Modular da Padre Cabral.
“Aqui fiz muitos amigos, ganhei mais conhecimento. Nunca é tarde para voltar a estudar, vale muito a pena se matricular na EJA”, afirma Eduardo.
Renatha, que foi professora do pai no Vem que dá Tempo, não esconde o orgulho pela sua conquista.
“Ele era o primeiro a chegar às aulas e sempre foi muito participativo em todas as atividades. Já escutei muitas pessoas na faixa etária dele dizerem que se arrependem de não terem se matriculado na EJA. Voltar a estudar também ajuda a tirar o idoso do sedentarismo, pois ele socializa e aprende coisas novas. São muitos ganhos”, assegura Renatha.
Exemplar
Os diretores da Padre Cabral, Aléssia Pontes e Erisvaldo Pedrosa, contam que Eduardo, que concluiu a EJA Modular há poucos meses, era um aluno exemplar.
“Percebemos que o senhor Eduardo e nossos demais estudantes idosos são muito focados e comprometidos, pois sabem o quanto a educação fez falta na sua vida quando eram mais jovens. O estudo torna a vida mais plena e ajuda a reabrir as portas que, no passado, estavam fechadas”, pontua Erisvaldo.
Eduardo também se tornou uma referência para os mais jovens.
“Em uma turma cuja média de idade era de 23 a 24 anos, ele era um exemplo, dificilmente faltava”, lembra o professor de língua portuguesa Plínio Claudenes.
Alunas de Renatha no 9º ano do ensino fundamental, Yris Beatriz do Nascimento e Thauane Vitória da Silva Santos, ambas de 14 anos, são unânimes ao afirmarem que o pai da professora é uma inspiração para elas.
“A força de vontade que ele tem é um exemplo para nós jovens, ele mostra que estudo é tudo na vida”, enfatiza Yris. “Tenho idosos na minha família e usarei o exemplo do senhor Eduardo para que eles também voltem a estudar”, assegura Thauane.
EJA
Atualmente, 293 unidades de ensino ofertam a EJA na rede estadual de ensino. Dados preliminares do Censo Escolar 2023, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), no último dia 18, apontam que a rede estadual de Alagoas contava, até maio deste ano, com 31.420 alunos matriculados.
São 1928 na EJA fundamental e 29.492 na EJA Médio, 3.553 estudantes a mais do que a modalidade tinha de matrículas em 2022.
“O Vem que dá Tempo e a EJA Modular têm se mostrado a combinação perfeita. Entre 2021 e 2022, o programa contemplou 42.566 pessoas com a certificação de conclusão do ensino fundamental. Atualmente, temos 131 polos e, até julho já certificamos quase 10 mil pessoas somente no ano de 2023”, enumera Dirlene Monte, gerente Especial de Fortalecimento da Educação de Jovens e Adultos na Seduc.
