A chuva que castiga as áreas urbanas em Alagoas é a mesma que entrega fertilidade ao campo e eleva a produção agrícola e pecuária. Os efeitos positivos ao meio rural foram comentados pelo economista Cícero Péricles em entrevista à TV Gazeta, nesta terça-feira (31). Ele também cobrou políticas públicas efetivas para evitar os danos recorrentes provocados à cada estação chuvosa nas cidades. De acordo com o professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), as chuvas de agora devem elevar as safras de cana-de-açúcar, mandioca, feijão, milho e palma forrageira.
“Não existe produção agrícola nem atividade pecuária sem a água. Ela é determinante para esses dois segmentos que têm uma importância muito grande na economia alagoana. Cerca de 800 mil alagoanos ainda vivem no campo e vivem de atividade pecuária ou agrícola”, pontuou o economista.
Outro aspecto positivo destacado por ele é a regularidade das chuvas em Alagoas, o que garante reservas hídricas para os períodos de estiagem.
“Entramos no sétimo ano desse ritmo favorável da natureza em relação à agricultura. A chuva irriga, mas também permite guardar água para os próximos meses. Os grandes reservatórios, os açudes, os barreiros, as pequenas cisternas – são 60 mil em Alagoas – guardam água para os meses secos, garantindo tanto a sustentação da produção como também o atendimento à população do Semiárido, que é muito grande”, citou.
No tocante à pecuária, os efeitos das chuvas também são benéficos, aponta o economista – uma vez que a atividade desenvolvida em Alagoas é extensiva, de campo aberto, e depende de grandes e viçosos pastos.
“Os pastos alagoanos ocupam uma área quatro vezes maior do que a cana-de-açúcar. E lá, nessa área extensa, estão presentes grandes rebanhos. Temos 1,3 milhão de bovinos, mais de 300 mil ovinos (carneiros e ovelhas) e cerca de 80 mil caprinos (cabras e bodes). Tudo isso é atendido por água e quando a água chega, melhora os pastos. Os pastos melhores aumentam a alimentação e a alimentação maior para o gado garante mais carne e mais leite. Nessas condições, abrem-se muito mais possibilidades de atividade comercial”, ressalta o economista.
“A expectativa da pecuária para esse ano, assim como da agricultura, é muito positiva em função do clima favorável, o que significa mais água no pasto e mais água nas plantações”, arrematou.
Políticas públicas
O economista lamentou, entretanto, os estragos provocados pelas chuvas nas áreas urbanas, sobretudo naquelas desprovidas de políticas públicas de habitação e saneamento; disse que os problemas são recorrentes e que exigem mais investimentos por parte do poder público.
“Nesse momento as chuvas estão representando um prejuízo grande, muitas cidades e bairros alagados, perdas de habitações, pessoas desalojadas, desabrigadas, um transtorno que afeta a vida de quase 20 mil, principalmente as pessoas mais pobres, que vivem em cidades como Rio Largo, São Miguel e Penedo e bairros periféricos de Maceió. Esse é um problema recorrente nas áreas urbanas, que exige mais investimentos em habitação social, saneamento e políticas de prevenção, como a contenção de encostas, para enfrentar esse drama em cada estação chuvosa”, observou.