Seis romeiros saíram a pé de Viçosa, na Zona da Mata alagoana, no dia 1º de setembro, com destino ao Juazeiro do Norte, no estado do Ceará. Movidos pela fé em Padre Cícero Romão Batista (1844-1934), eles marcham em evolução física e espiritual.
São 45 km vencidos por dia com apenas cinco horas para o descanso. Enfrentam o sol, a chuva, a lama e a fúria de animais soltos pelo caminho. Ao raiar do dia, se refazem na generosidade daqueles que encontram pela estrada e no fortalecimento dos laços de amizade e confiança criados pelo grupo. Ao todo, percorrerão cerca de 525 km.
“Ainda existe muita gente boa nesse mundo: pessoas acolhedoras, maravilhosas. Não é preciso ter as coisas, basta ter a boa vontade e a gente vê muito isso, o que nos deixa, assim, encantados. São pessoas fazendo doação em dinheiro, que chama para tomar café na casa delas; é ajuda de todas as formas, é uma coisa fantástica, maravilhosa; é magnífico”, resume Josivaldo Alves Rodrigues, o “Val do Sindô”, 50 anos, um dos líderes dos Romeiros da Viçosa.
Até a sexta-feira (9), eles já tinham percorrido 430 km a pé. A parada para o descanso no 9º dia de caminhada aconteceu no município de Jati (CE), onde Val do Sindô respondeu às perguntas enviadas por aplicativo de mensagem pelo Alagoas Notícia Boa (ALNB), que também acompanha a jornada pelo grupo criado no Whatsapp.
“Bom dia, grupo! Só falta Missão Velha (CE) pra gente chegar a Juazeiro”, anunciou, na manhã deste sábado (10), um dos integrantes do grupo. A previsão de chegada ao destino é nesta segunda-feira (12), pela manhã.
Dos seis integrantes, José Cícero Bernardino, 40 anos, foi obrigado a abandonar a caminhada no quarto dia, ao percorrer cerca de 200 km. O desgaste físico e as bolhas criadas nos pés o forçaram a parar e seguir de carro, junto ao grupo de apoio formado por Jhones Antero da Silva, 24; Maria José da Silva de Oliveira, 50, e Roberta Paes de Oliveira, 36.
Seguem a pé: Val do Sindô; Geraldo dos Santos, o “Deraldo”, 48; Paulo Lourenço da Silva, 45; Edmilson Gomes Meira, o “Miguel das Bicicletas”, 54; e Valdemir Vilela de Lima, “o Val do Manoel”, 40.
Obstáculos
Um dos momentos mais difíceis enfrentado pelo grupo ocorreu logo em Chã Preta, ainda em território alagoano.
“Uma vaca deu uma botada na gente e a gente teve de pular umas cercas. Em Flores (PE), enfrentamos muita chuva, que não era prevista”, recorda Val do Sindô. O estresse, gerado pelo cansaço físico e pelas poucas horas de sono, põe a união do grupo à prova.
“Nossa rotina é acordar à 1h20 da madrugada, saindo de 2 horas para caminhar. Depois, uma parada para o café e retorna para a caminhada. À tarde, almoça, depois volta a caminhar novamente; quando vamos dormir já são 8 horas da noite. E recomeça tudo de novo. Isso é uma das coisas que mais desgasta, porque você não tem o tempo de descanso. E o cansaço traz muito estresse. Aí onde a gente prova que o grupo é unido e se dá muito bem”.
O grupo é experimentado. Em 2018, parte dele fez o mesmo trajeto a pé. A fé e o exemplo impelem os Romeiros da Viçosa.
“O que nos move é a fé em Jesus Cristo, primeiramente; em meu Padrinho Cícero, Nossa Senhora das Dores e a vontade de realizar os sonhos de muita gente que não tem coragem, incentivando-as a fazer o mesmo”, revela Val do Sindô.
Na chegada, estão previstas as visitas à Matriz e à estátua de Padre Cícero, na Colina do Horto. É lá que os romeiros pagam suas promessas e renovam a fé. A volta ocorrerá por meio de transporte terrestre.
Beatificação
Val do Sindô, que já foi inúmeras vezes e de diversas formas ao Juazeiro – inclusive de moto – revela que desta vez a ocasião é especial. No mês passado, o Vaticano autorizou a abertura do processo de beatificação do Padre Cícero, após o perdão da Igreja Católica, ocorrido em 2015.
“Desde os meus avós que eu já ouvia falar em Padre Cícero e vim muitas vezes ao Juazeiro, desde quando era adolescente. Só de moto, quando adulto, fui mais de 15 vezes. Com essa agora é a segunda vez, a pé. Já fui de ônibus, de carro. Então, fico muito motivado quando venho pra cá, me sinto muito bem e acredito que, se era bom, agora com padre Cícero tornado Santo, vai ser muito melhor”, comemora.
O grupo já pretende fazer uma nova caminhada daqui a quatro anos. E o planejamento já começou. “Não é fácil. Vir a Juazeiro a pé requer fé, preparo físico, organização, disciplina, vontade, determinação; são os fatores principais”.
Para os Romeiros da Viçosa, desta jornada já se pode enxergar a maior lição. Ela se apresenta vívida no horizonte e, conforme os passos se apressam para chegar ao destino, se levanta imponente como a estátua do Padre Cícero, do alto dos seus 27 metros.
“Todas as pessoas devem fazer um pouco de sacrifício na vida, não só vindo a pé ao Juazeiro. A gente vê e passa a crer que o mundo precisa melhorar. Não é na dor, no sacrifício, que a gente melhora, é na fé. E a gente encontra muitas pessoas boas, caridosas, bondosas, generosas e isso nos incentiva a vir cada vez mais”, conclui Val do Sindô.