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Universitário, cacique luta para preservar a memória katokin

Daniel Xenupre vai se formar em História e quer repassar tradições dos mais antigos aos jovens da sua aldeia, em Pariconha, Sertão de AL
Daniel Xenupre, cacique do povo Katokin: luta para menter viva identidade cultural

O cacique Daniel Xenupre, de 25 anos, tem um desejo: não deixar morrer as tradições culturais dos mais de dois mil indígenas da etnia Katokin, de Pariconha, Sertão de Alagoas.

“As informações dos anciãos devem ser repassadas às novas e futuras gerações”, avisa o indígena, aluno do Curso Intercultural de Licenciaturas Indígenas da Universidade Estadual de Alagoas (Clind/Uneal).

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Ele resolveu lutar pelo diploma em História justamente para que possa ter a formação técnica necessária à preservação e disseminação das tradições de seu povo.

Atualmente, 280 índios estão matriculados na Uneal, nos cursos de História, Geografia, Letras Pedagogia e Matemática. As turmas são exclusivas povos indígenas.

Graduação desde 2015

A formação deste grupo começou em 2010 com apoio financeiro do Governo Federal. Prossegue, atualmente, com recursos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecoep).

“A graduação tem por finalidade formar professores para as escolas nas aldeias”, explica o professor Adelson Peixoto, coordenador dos cursos da Uneal para povos indígenas.

Os acadêmicos assistem às aulas nos polos do Agreste, em Palmeira dos Índios, do Sertão, em Pariconha, da Zona da Mata, em Joaquim Gomes, e do Baixo São Francisco, em Porto Real do Colégio.

Acadêmicos indígenas da Uneal em recente visita a museu na região de Xingó, no Sertão

Pagamento de dívida

Para o educador, os cursos de graduação contribuem para reparar dívida histórica da sociedade brasileira para com os povos indígenas brasileiros e, neste caso, alagoanos.

“Primeiro passo para pagar esta dívida é lhes ofertar cursos superiores. Eles têm direito ao estudo para poder se desenvolver e escrever a própria história”, explicou ao ALNB.

As aulas são ministradas nos finais de semana. E não se restringem à sala de aula. Quando possível, os acadêmicos têm aulas práticas em pontos distintos de Alagoas.

Recentemente, 26 alunos foram ao Museu de Arqueologia de Xingó, vinculado à Universidade Federal de Sergipe (UFS), e a um campo de pinturas rupestres em Delmiro Gouveia

Na ocasião, eles conheceram o programa de resgate arqueológico em virtude da construção da hidroelétrica de Xingó, situada entre Piranhas (AL) e Canindé do São Francisco (SE).

Em AL, 22 mil indígenas

Segundo o professor doutor Jorge Vieira, há 12 grupos indígenas em Alagoas, totalizando aproximadamente 23 mil índios. “Nem todos vivem em propriedades demarcadas”, avisou.