Maceió, AL

30°C
Clear sky

Com prefácio de Laurentino Gomes, historiador alagoano lança livro sobre escravidão em Viçosa

Obra de Caio Vasconcelos traz roteiro sobre o período, trata da resistência negra e mostra face oculta de nossa história
Caio Vasconcelos é historiador, especialista em História de Alagoas (Ifal) e membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL)

“A obra de Julio Caio Vasconcelos é muito bem-vinda porque se dedica ao universo local, trazendo contribuições inestimáveis a um tema cada vez mais importante no estudo e no entendimento das raízes da sociedade brasileira, reconstruindo retalhos da história da escravidão”.

A apresentação faz parte do prefácio assinado por Laurentino Gomes, autor da trilogia Escravidão, sobre o livro “Escravidão em Viçosa”, de autoria do historiador e advogado alagoano Caio Vasconcelos.

PUBLICIDADE


A obra foi lançada recentemente nas redes sociais e teve boa aceitação, com quase todos os exemplares vendidos. O livro traz um roteiro sobre o período da escravidão em Viçosa, município a 86 km de Maceió, no Vale do Paraíba alagoano.

O trabalho foi divido em quatro capítulos: Panorama da escravidão no atual território de Viçosa, Cenas da escravidão, A abolição da escravatura na então Vila de Assembleia, e Um breve cenário após a escravidão em Viçosa; além de três anexos: O Camponez, Salve Mãe Preta das senzalas e Salve negro do Brasil. Salve treze de maio de 1888.

Em entrevista ao Alagoas Notícia Boa (ALNB), Caio Vasconcelos conta que a ideia de contribuir com o estudo da escravidão em Viçosa surgiu como consequência da pesquisa que fez para o livro “História Política de Viçosa”, ainda em 2018.

Naquela oportunidade, ele acompanhou em Viçosa o escritor Laurentino Gomes nas comunidades quilombolas Gurgumba e Sabalangá, além da Serra Dois Irmãos.

“Laurentino é um amigo que ganhei ao longo desses anos. Nosso primeiro contato foi ainda em 2018, quando o acompanhei em suas investidas em Viçosa para sua trilogia Escravidão. Ter meu trabalho prefaciado por Laurentino foi um reconhecimento de sua amizade, bem como da relevância do livro para o estudo da escravidão. Enfim, uma felicidade”, revela Caio.

Com a pretensão de resgatar documentos e fatos do regime escravocrata envolvendo a história local, ele conta que o estudo tornou-se possível após exploração em cartórios, institutos históricos e arquivos públicos, aliado a uma pesquisa bibliográfica especializada sobre o tema, um trabalho de persistência e garimpo.

O que mais chamou a atenção do autor foi a quantidade informações sobre o tema existentes em diversos acervos, que ainda eram inacessíveis aos estudiosos e leitores.

“A face ‘oculta’ de nossa história merece, por meio da função do social dos pesquisadores, ser democratizada, que abrange os maus tratos, a resistência negra, bem como os desdobramentos do período da escravidão”, destaca o historiador.

Zumbi

Na obra, Caio Vasconcelos cita o historiador viçosense Alfredo Brandão ao relatar que no século XVII, Viçosa abrigou parte do maior e mais importante quilombo das Américas, o de Palmares. Cita ainda uma Consulta do Conselho Ultramarino sobre a morte de Zumbi, encaminhada a El-Rei.

Esta informa que o chefe do Quilombo estava no “sumidouro que artificiosamente havia fabricado”, ao que tudo indica, como defende Brandão, na Serra dos Dois Irmãos, atual município de Viçosa.

Cachoeira Dois Irmãos com seus sumidouros, nas imediações da Serra de mesmo nome, em Viçosa (foto: Atylla Bezerra / Ascom Viçosa)

“Outro importante acontecimento conecta a história do território de Viçosa com a luta dos escravizados. Após a guerra em Palmares, seu líder Zumbi (1655-1695) conseguiu escapar e refugiar-se na atual Serra dos Dois Irmãos durante mais de um ano. Somente em 1695, ‘um mulato’, mediante a sua alforria, entregou o local onde Zumbi estava escondido, sendo este capturado e morto em 20 de novembro do mesmo ano”, escreve Caio.

A obra também trata do surgimento, por volta de 1700, das povoações viçosenses com origens quilombolas: Sabalangá, Gurgumba e Mata Escura, sendo estas as mais antigas do município. As duas primeiras são comunidades remanescentes certificadas pela Fundação Palmares, informa o livro.

Democratizar fatos

Laurentino Gomes, no prefácio da obra, convida o leitor a estudar e a refletir sobre o que aconteceu durante o período da escravidão no Brasil, tema doloroso, repleto de sofrimento e crueldade.

“É um desafio que, 130 anos depois da Lei Áurea, o Brasil ainda não conseguiu resolver. Liberdade nunca significou, para o ex-escravos e seus descendentes, oportunidade de mobilidade social ou melhoria de vida. Nunca tiveram acesso a terras, bons empregos, moradias decentes, educação, assistência de saúde e outras oportunidades disponíveis para os brancos. Os resultados aparecem nas estatísticas a respeito da profunda e perigosa desigualdade no país”, pondera Laurentino.

Em 2018, Caio Vasconcelos acompanhou Laurentino durante as investidas em Viçosa para a trilogia Escravidão; ao fundo, a Cachoeira Dois Irmãos

Indagado pelo ALNB de que forma a sua obra pode contribuir para a resolução da herança escravocrata na sociedade brasileira, sobretudo em Alagoas, Caio responde: “Acredito que democratizando fatos do período da escravidão, o historiador faz com que os leitores reflitam sobre o processo de formação da atual sociedade e os efeitos que o regime escravocrata deixou, em especial nas desigualdades que ainda persistem em nosso estado”.

Sobre o autor

Julio Caio Vasconcelos é historiador, especialista em História de Alagoas (Ifal) e membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL).

Advogado, especialista em Direito Municipal (Cesmac), Direito Público (Legale) e mestre em Direito Público (Ufal), escreveu os livros: História Política de Viçosa, Anadia, Dr. Campello de Almeida e Autonomia Financeira Municipal e Gestão Consorciada.

O livro Escravidão em Viçosa pode ser obtido diretamente com o autor por meio do Whatsapp (82) 999272705. Valor do exemplar: R$ 40.