O Arquivo Público de Alagoas (APA) completa 62 anos neste sábado (30). De presente, recebe um dos maiores conjuntos de documentos do estado: a Coleção Professor Sávio de Almeida.
A partir de agora, qualquer pessoa pode ter acesso ao acervo. Para isso, basta se cadastrar como pesquisador no site da instituição, selecionar a série documental de seu interesse e mandar um e-mail para [email protected]. Quem preferir, pode ligar para o 3315-7879 e agendar visita.
“É um acervo riquíssimo, provavelmente o maior material etnográfico de Alagoas”, afirma o pesquisador da Fundepes, Lucas Paranhos Netto Bernardes.
Ainda em vida, Sávio de Almeida – falecido no dia 10 de fevereiro de 2023, aos 80 anos – decidiu doar para o Arquivo Público todo o seu acervo pessoal, composto de mais de 10 mil documentos, entre itens pessoais, manuscritos de livros, teses de doutorado, dissertações de mestrados, pesquisas indígenas e com religiões de matrizes africanas.
A relação completa de documentos pode ser conferida no site do APA (www.arquivopublico.al.gov.br).
O único pedido do professor foi de que o acervo não se separasse – ou seja, não fosse espalhado por instituições diferentes – e que recebesse o título de Coleção Sávio de Almeida.
“Ganhamos o maior presente”, comemorou a superintendente do APA, Wilma Nóbrega.
Operação
A operação para o repasse do conjunto de documentos envolveu Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e o próprio Arquivo Público.
Comandado pelo professor Danilo Marques, coordenador geral do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da Ufal, o trabalho de catalogação teve início em 2022 e se estendeu por um ano e meio.
Segundo o chefe substituto de Divisão do Iphan, Maicon Fernando Marcante, toda a proposta de catalogação do acervo, que foi encaminhado pelo próprio Sávio de Almeida ao instituto, há cinco anos, foi construída em diálogo com o professor.
“A gente entendeu que a documentação deveria ficar no Arquivo Público, não só pela questão de conservação, mas pela disponibilidade dela, para torná-la pública para pesquisa”, ressaltou.
Depois de fazer todo o alinhamento das ações de catalogação, Maicon Marcante passou os trabalhos de separação de documentos para o pesquisador Lucas Paranhos. Ao lado de bolsistas do Neabi, ele dividiu o acervo em 16 séries – docência, documentos pessoais, periódicos, teses, dissertações, monografias, entre outras – e subséries.
Acervo
Ele conta que há mais de 300 fitas cassetes com entrevistas feitas pelo professor Sávio de Almeida com líderes de povos indígenas de comunidades como Kariri-Xocó (Porto Real do Colégio), Xucuru-Kariri (Palmeira dos Índios) e Kalankó (Água Branca), entre outras, além de depoimentos em áudio de lideranças de religião de matriz africana.
“Esses registros de áudio são muito relevantes para pensar a história recente, a memória dos povos indígenas de Alagoas e dos povos de religião de matriz africana”, destacou Maicon.
“Luiz Sávio de Almeida foi um dos mais expressivos e mais prolíficos intelectuais de Alagoas, e possuidor de uma grande qualidade: investir em mentes mais jovens no caminho acadêmico. E em seus arquivos pessoais se preservam acervos importantíssimos sobre suas próprias pesquisas e sobre os estudos das mentes brilhantes que o tiveram como mestre o orientador ao longo de quase meio século”, emendou o jornalista Ênio Lins.
Autor teatral – escreveu peças de sucesso como como A Farinhada (1998) e A Igreja Verde (1998) –, Sávio de Almeida dedicou um bom tempo de pesquisa sobre a dama do teatro alagoano Linda Mascarenhas, que ganhou uma série especial no acervo que chega ao Arquivo Público.
“São documentos raros, com objetos pessoais, fotografias e correspondência da atriz”, conta Lucas Paranhos.