A Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, que se estende entre os estados de Alagoas e Pernambuco, terá o seu Atlas Recifal, o primeiro do Brasil. O mapeamento pioneiro está sendo elaborado pela geógrafa Julia Caon Araújo, bolsista do Programa Bolsas FUNBIO (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade).
O trabalho da brasileira foi baseado no Allen Coral Atlas, mapeamento global de corais, e considera três informações: profundidade, geomorfologia – o relevo – e bentônico, que é o tipo de fundo. Por satélite, a pesquisadora coleta a batimetria (medição da profundidade dos oceanos) e imagens da APA.
Depois, a geógrafa vai a campo para coletar dados de profundidade e capturar fotos submarinas georreferenciadas de cada tipo de ambiente: corais, banco de areia, grama marinha… Com esse material, ela alimenta um modelo que, de forma automatizada, procura áreas similares.
Ao todo, a pesquisadora utilizou 254 imagens de satélite para fazer esse processamento.
“Foi um processo muito difícil porque é um projeto grandioso. E o trabalho de campo é super importante porque são os dados coletados em campo que validam o processamento das imagens de satélite”, explica Julia Caon.
A geógrafa trabalha em parceria com o Projeto Conservação Recifal e a própria APA; e conta com o apoio do FUNBIO e da Rufford Foundation.
Maior do Brasil
A APA Costa dos Corais é a maior unidade de conservação federal marinha do país. São mais de 400 mil hectares de área e cerca de 120 quilômetros de litoral entre os estados de Alagoas e Pernambuco. A fauna inclui espécies ameaçadas como o peixe-boi marinho (Trichechus manatus).
“Não havia nenhum levantamento batimétrico ou qualquer mapeamento específico na APA Costa dos Corais e ter essas áreas mapeadas é super importante. Todos os mapas geraram áreas quantificáveis, então com eles é possível saber a extensão total de corais, de grama marinha, por exemplo. E essa é uma informação muito rica para fiscalização e conservação, pois ajuda a concentrar as ações em áreas-chave”, destaca Julia.
Além disso, as informações sobre o relevo marinho e o tipo de fundo estão diretamente associadas à biodiversidade. É nas áreas de gramas marinhas, por exemplo, que se concentram os peixes-boi. Além disso, regiões mais biodiversas em termos de habitat tendem a ter estoques pesqueiros maiores.
Com ajuda dos próprios moradores locais, a pesquisadora definiu áreas estratégicas na APA, onde é proibido o turismo e a pesca, que concentram maior biodiversidade.
Ao todo, já foram mapeados os municípios alagoanos de Maragogi, Barra de Santo Antônio, Porto de Pedras, finalizando a etapa em Japaratinga.
“Isso é importante porque hoje no Brasil não existe nenhum mapeamento, nenhum atlas de recife em alta resolução e esse trabalho vem pra suprir essa falta de informação. Hoje a APA Costa dos Corais é a unidade de conservação marinha mais mapeada do Brasil”, destaca a bolsista do FUNBIO.
As informações não têm apenas finalidade científica, explica Julia, mas também são importantes para educação e conscientização ambiental, para as pessoas conhecerem a área em que vivem e trabalham.
“E esse trabalho foi construído junto com a população local, junto a pescadores, jangadeiros que compartilharam comigo seu conhecimento”, acrescenta.
Cartografia social
Outra perspectiva é justamente usar o levantamento para fazer uma cartografia social da APA, com a identificação dos corais nomeados há gerações, as praias e os pontos conhecidos pela população local.
Dois mapas iniciais já estão disponíveis online (acesse aqui e aqui). A disponibilidade online é um dos principais ganhos do projeto, garante a geógrafa, que aponta a necessidade de que as unidades de conservação possuam um banco de dados geoespaciais acessível.
“Isso é importantíssimo porque por meio do conhecimento das nossas áreas a gente consegue conservar melhor. Esses dados estão disponíveis para qualquer pessoa acessar, desde agentes de turismo, guias de mergulho, até pesquisadores e os próprios gestores da APA. O principal foco desse mapeamento é justamente trazer um retorno para a unidade de conservação e para a população local”, destaca Julia Caon.
Os mapas da APA da Costa de Corais são apenas as primeiras peças do quebra-cabeça marinho do Brasil, espera a pesquisadora.
“Quero que esse trabalho estimule o mapeamento de outras áreas recifais do país como Abrolhos, Fernando de Noronha, Atol das Rocas e uma infinidade de áreas recifais que precisam ser mapeadas e conhecidas em detalhe. Principalmente diante do futuro de mudanças climáticas, é necessário conhecer e monitorar o estado de saúde dos nossos corais para ficar atento a episódios de branqueamento, por exemplo”, reforça.
“Para isso, entretanto, é necessário incentivo nacional e políticas públicas”, completa.
Fonte: Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO