No próximo sábado (25), a rádio comunitária Campestre FM celebra 25 anos de existência. Com mais de duas décadas no ar, a emissora vai além da programação usual de uma estação interiorana. As ondas sonoras transbordam em ações de educomunicação, inclusão digital, formação profissional e responsabilidade socioambiental.
A sede da emissora fica em Campestre, município alagoano com cerca de 7 mil habitantes, encravado no Vale do Jacuípe, ao Norte do Estado, bem na divisa com Pernambuco. É de lá que irradia ações por toda a região, mesmo nos locais onde as ondas de radiofrequência não chegam, pela limitação imposta às emissoras comunitárias.
Atualmente, beneficia 200 crianças e adolescentes em projetos como o Campestre Cultural, Escolas nas Ondas do Rádio, Casa do Saber Digital e Guardiões do Vale do Jacuípe. São estudantes da rede pública, na sua maioria filhos de trabalhadores rurais, assentados da reforma agrária, pescadores e de servidores públicos.
Muito do que se transformou a Campestre FM deve-se ao trabalho abnegado e apaixonado do professor Antônio Buarque de Lima Júnior, 58 anos, diretor da emissora.
“Eu já tinha trabalhado em outras rádios, mas foi na Campestre FM onde eu aprendi muita coisa com o Buarque, esse cara que é excepcional e que já é maior do que a própria história que ele está criando”, afirma o radialista Dinho Santos, que hoje atua na Asas FM, em Lajedo (PE).
“A Campestre FM contribuiu de forma significativa para a minha formação profissional. Quando saí de lá, fui direto para uma rede de rádios de Maceió, para onde levei o meu conhecimento de locutor, de edição de áudio e musical. A Campestre FM efetivou o meu profissionalismo”, revela.
Trabalho transformador
Nesse trabalho transformador, a Campestre FM conta com parceiros importantes, a exemplo do Santander (Amigo de Valor). É por meio da parceria com o banco e o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), que a emissora desenvolve o Programa Escolas nas Ondas do Rádio.
Em 2019, um diagnóstico realizado pelo CMDCA de Campestre indicou a necessidade de um projeto social paralelo às políticas públicas existentes no município, que gerasse oportunidades de profissionalização para os adolescentes da cidade.
Assim foi instituído o Escolas nas Ondas do Rádio, que atende 100 adolescentes de 12 a 17 anos. Por meio das tecnologias de comunicação, principalmente o rádio e a internet, os participantes aprendem a operar equipamentos de gravação e a utilizar ferramentas de edição de áudio e vídeo, obtendo conhecimentos valiosos para futuras inserções no mercado de trabalho.
Por meio de parcerias com a rede de serviços municipal e instituições privadas, o projeto também investe na formação integral dos jovens. Para isso, oferece oficinas, como a de combate às violações de direitos, e programas de reforço escolar que visam a redução da evasão.
A estudante do 2º Ano do Ensino Médio, Karinny Letícia Lins, 18 anos, participa do Escolas nas Ondas do Rádio há mais de um ano. Ela conta que as atividades contribuem significativamente com o desenvolvimento da comunicação interpessoal.
“Antes eu era muito envergonhada de falar em público e o curso me ajudou bastante de forma profissional e pessoal, também. Agora eu consigo falar mais com as pessoas, sou menos envergonhada”, revela Karinny Letícia, que pensa em seguir carreira na área da Comunicação.
“Penso fazer a faculdade de Jornalismo e o programa tem me ajudado bastante nisso. Hoje eu já sei a maneira correta de segurar o microfone, de fazer uma entrevista”, comemora.
Parcerias
Além do Amigo de Valor, há outras parcerias importantes, a exemplo do programa Campestre Cultural, desenvolvido com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e Ministério da Cultura (MinC); o Casa do Saber Digital, da Fundação Telefônica Vivo; e o Guardiões do Vale do Jacuípe, do Instituto Oi Futuro.
A Prefeitura de Campestre também apoia as ações da emissora comunitária, por meio de suas secretarias e órgãos, bem como a Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz), através do programa Nota Fiscal Cidadã.
Apoiado pelo Instituto Oi Futuro e reconhecido pela Fundação Banco do Brasil como Tecnologia Social Replicável, o projeto Guardiões do Vale do Jacuípe atua desde 2012 no monitoramento da bacia hidrográfica do Rio Jacuípe, que corta a região Norte e deságua no Una, em Pernambuco.
A atuação dos estudantes é voltada à comunicação para a prevenção de enchentes e apoio às comunidades atingidas por intempéries.
“O projeto nasceu após a grande enchente que assolou a nossa região em 2010, e tinha como objetivo primário monitorar a vazão do rio, alertar com antecedência a população de possíveis enchentes e levar ajuda humanitária. Ao longo de sua existência, foi formando parcerias, ao mesmo tempo, obtendo credibilidade e respeito da população. Hoje, conta com a participação direta de 50 jovens, residentes em nosso município e também de cidades circunvizinhas, tais como: Colônia Leopoldina e Jacuípe, em Alagoas; Xexéu e Água Preta, em Pernambuco”, explica o professor Buarque.
Durante a pandemia da Covid-19, sobretudo no período de distanciamento social, o programa Linha de Frente, apoiado pela Fundação Itaú Social, em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência Social, ofertou conteúdos informativos à comunidade, por meio de spots e programas.
Indagado pelo Alagoas Notícia Boa (ALNB) sobre qual o maior legado que a Rádio Comunitária Campestre FM construiu e vem deixando ao longo desses 25 anos de atuação, Buarque responde: “Elevar Campestre da categoria de uma comunidade remota à uma cidade que tem reconhecimento no cenário nacional, no seguimento de Educomunicação e inclusão digital, em prol do protagonismo infanto-juvenil”.