Era janeiro de 2019. Naquele dia, Tatiane de Omena Lima realizava um sonho: assumia seu segundo concurso na Secretaria de Estado da Educação (Seduc) e seria encaminhada para a escola do seu coração, a Theotônio Vilela Brandão, no Poço, em Maceió, onde cursou seu ensino médio.
Mas aquele dia lhe reserva mais uma surpresa: na Superintendência de Valorização de Pessoas da Seduc, onde foi assinar a documentação para assumir a carga horária de 30h, a técnica que lhe entregava a papelada tinha uma voz familiar.
E foi então que percebeu que se tratava de sua professora de infância, Sílvia Jane Cerqueira, a quem não via há mais de 15 anos e que despertou nela o desejo de ser professora. O reconhecimento foi mútuo e ambas não contiveram a emoção.
E este não foi o único reencontro que o destino reservava a Tatiane. Na Theotônio Vilela Brandão, estava lá a sua professora de língua portuguesa do ensino médio, Lara Cardoso. E foi a partir dos exemplos de Sílvia Jane e Lara que, há dez anos, Tatiane também inspira seus estudantes apresentando uma química interativa e instigante a partir de projetos e experimentos.
Os resultados não poderiam ser melhores: as pesquisas que conduziu com seus alunos foram premiadas em eventos como o Encontro Estudantil de Alagoas, Feira Brasileira de Ciências e Engenharia da Universidade de São Paulo, a Febrace- USP e a Semana Interinstitucional de Pesquisa, Tecnologia e Inovação na Educação Básica (Sinpete) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Tatiane conta que quando criança, a Silvia Jane, foi sua professora na Escola Municipal Neide Freitas França, no Povoado Saúde, em Ipioca. Dela, ela recebeu acolhimento e amor.
“Quando brincava com meus amigos, eu era Silvia Jane e eles os meus alunos”. Já no ensino médio, a Lara era aquela professora com uma garra inigualável, que animava a todos quando estavam desmotivados.
“Como educadora, tento ser um pouco das duas: acolhedora e amorosa como a Sílvia e motivadora e vibrante com a Lara. Para mim, ser professora não é só a realização de um sonho de infância, mas também colocar em prática o que quero transmitir para meus alunos para que tenham sucesso”, revelou.
Ensinando para a vida
Orgulhosas pelo sucesso de Tatiane, Sílvia Jane e Lara tiveram trajetórias diferentes, mas, em comum, compartilham a ideia de que ser professor é preparar seu aluno para a vida.
“Minha mãe disse que, desde criança, nunca desejei outra coisa que não fosse ser professora. Cresci em uma época em que a escola era um espaço muito rígido e sisudo e, por isso, como educadora, minhas aulas sempre foram extrovertidas, mas sem nunca perder o foco”, disse a professora Silvia Jane.
Segundo relato de Silvia, nestes 39 anos de magistério, ela buscou ser uma professora meio mãe e sempre mostrando bons exemplos.
“Sei que nossos alunos se espelham em nós, sei que posso transformar vidas. E ver a Tatiane se tornar uma professora brilhante me enche de orgulho”, disse.
Na sua vida profissional, Silvia leciona na rede municipal, nas escolas estaduais Guiomar de Almeida Peixoto e Irene Garrido e atuou ainda no Programa de Educação Fiscal da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) e na Superintendência de Valorização de Pessoas da Seduc. Atualmente está aposentada da rede pública, mas ainda leciona na rede particular.
Há mais de 20 anos na “Théo Brandão”, como a escola é carinhosamente chamada, Lara se considera uma romântica que luta sempre por um mundo melhor e que acredita que pode ser uma influência positiva para seus estudantes.
Ela explica que no ensino médio, o aluno está naquela fase onde não é mais criança, mas ainda não é adulto. Por isso, a responsabilidade de compartilhar com eles não apenas conteúdo, mas, experiência de vida.
“Estamos moldando esses jovens para seu futuro, o que é uma responsabilidade enorme. E é por isso que amo esta profissão: meus alunos me passam uma energia tão positiva que, quando estou em sala de aula, reflito o que eles me entregam. E saber que plantei na Tatiane esta semente de amor ao magistério me deixa muito feliz”, declara Lara.
Olhando para as estrelas
Desde criança, Adriano Aubert tinha um fascínio pelo céu e pelos mistérios do universo. E a curiosidade em entender o desconhecido o levou a desenvolver o interesse pela física e pela astronomia, ciências que definem sua trajetória profissional.
Formado em Física e Mestre em Meteorologia pela Ufal, ele é professor da rede estadual desde 2001 e sempre transmitiu suas duas paixões a seus estudantes. Há 14 anos como coordenador do Observatório Genival Leite Lima (OAGLL), no Cepa, é uma referência na pesquisa e ensino da astronomia em Alagoas.
Não são poucos os estudantes que o tiveram como professor e se inspiraram nele para seguir carreira na Educação. Um deles é Deives Cidrim, professor de matemática da Escola Estadual Moreira e Silva, no Cepa. Ele conheceu Adriano em 2006, quando era estudante da Escola Estadual Maria Salete de Gusmão, no Osman Loureiro. Até hoje, ele lembra com carinho das aulas do professor apaixonado pelas estrelas.
“Ele era diferenciado porque ensinava a física com paixão. Eu me encantava com tamanha sabedoria sobre ciências e já se via, desde àquela época, seu amor pela astronomia. No dia em que ele levou um planetário móvel e, depois, um telescópio para a escola, eu e meus colegas ficamos encantados. Quando o professor é apaixonado pelo que ensina, é impossível não cativar seus alunos”, recorda Deives.
Deives diz que, como professor, Adriano foi uma inspiração.
“Mesmo tendo seguido o caminho da matemática e não da física, muitas das minhas práticas docentes são baseadas no professor Adriano. Ele foi uma inspiração para mim e tenho certeza que ainda inspira muitos jovens com o seu trabalho no observatório”, afirmou.
Genisson Panta e Kizzy Rezende são outros dois pupilos de Adriano. Concluintes do ensino médio nas escolas estaduais Afrânio Lages (Genisson) e Bom Conselho (Kizzy), eles se envolveram com os projetos do professor ainda na escola, tendo atuado nas pesquisas em astronomia e como voluntários do OAGLL.
Doutorado
O interesse pela astronomia os levou ao curso de Geografia da Ufal, de onde alçaram voos ainda mais altos: em setembro, Genisson teve sua dissertação de Mestrado premiada como a melhor do país no Simpósio Nacional de Geomorfologia em Corumbá (MS), enquanto Kizzy se dedica ao Doutorado na USP. Ele se mudou para a capital paulista há dez anos, após ser aprovada no renomado Mestrado em Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da instituição(IAG-USP).
“O Adriano é uma referência para mim e merece todas as homenagens”, resume Genisson, que hoje é professor de Geografia da Escola Estadual Edmilson Pontes.
“Ele foi meu mentor, meu mestre, e é hoje um grande amigo. Ele acreditou em mim muito antes de eu saber o que queria ou imaginar onde poderia chegar. Boa parte do que sou e do que busco hoje teve a sua influência. Ele foi meu primeiro exemplo de profissional e professor, sempre generoso e com um coração enorme”, diz Kizzy em sua página no Instagram @15eoceu, onde faz postagens sobre astronomia.
Adriano se diz grato por ter transformado a vida de Deives, Genisson e Kizzy. “Todos são brilhantes no que fazem e fico feliz e até um pouco envaidecido por saber que os ajudei de alguma forma. Ser professor é compartilhar amizades, conhecimento e experiências de vida”, frisa.
Texto de Ana Paula Lins / Ascom Seduc