Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), vinculado ao Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), tem alcançado resultados expressivos em pesquisas relacionadas à biodiversidade, à taxonomia e à biotecnologia microbiana. Eles descobriram, num período de dez anos, 14 novas espécies ou gêneros de fungos existentes em biomas como a Mata Atlântica e a Caatinga.
Os trabalhos desenvolvidos na Ufal demonstram potencial para contribuir com o crescimento da indústria de combustíveis. Isso, a partir da produção de enzimas de importância biotecnológica, e com processos de remediação de áreas contaminadas – em especial as contaminadas por hidrocarbonetos, como o petróleo, por exemplo, que, recentemente, afetou diversas praias do litoral brasileiro, exigindo atuação rápida do poder público.
Além disso, os pesquisadores que integram o ICBS passaram a estudar a interação entre microbiota – microrganismos que fazem parte do organismo humano – e macro-organismos, que são organismos vivos que podem ser vistos a olho nu.
“Estamos trabalhando a relação entre a microbiota e a epilepsia, bem como a microbiota e os corais branqueados da APA Costa dos Corais”, explicou a professora e pesquisadora Melissa Landel.
A docente coordena, desde 2013, quando chegou a Alagoas vinda do Rio Grande do Sul, um grupo que, atualmente, conta com dez colaboradores e que envolve desde estudantes de graduação, por meio de programas de Iniciação Científica, até estudantes de doutorado, envolvendo programas de pós-graduação da Ufal.
“O nosso laboratório conta com alunos de graduação e de pós-graduação, além de professores e discentes colaboradores de outros laboratórios e institutos da Ufal, bem como colaborações com outras universidades. Nosso grupo já descreveu várias espécies novas de leveduras, algo bastante significativo e pioneiro, sobretudo por se tratar de biomas típicos da região Nordeste”, acrescentou a professora Melissa.
Homenagem
Para marcar as descobertas, as novas espécies ou gêneros de fungos foram nomeadas em homenagem aos locais em que foram encontradas.
“Comumente, nessas descobertas, são homenageados pesquisadores renomados na área ou há uma referência ao substrato de isolamento dos micro-organismo ou ainda ao local onde houve o achado. Foi assim que foram nomeadas as espécies Valentiella maceioensis sp. nov., Vishniacozyma alagoana sp. nov. e Carcinomyces nordestinensis sp. nov”, expôs Landel.
Para 2023, o grupo liderado pela pesquisadora deve seguir desenvolvendo projetos e parcerias na área de biotecnologia, incluindo projetos no âmbito de um novo programa Institutos Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação (INCTs) para estudos com leveduras.
“Este projeto foi aprovado no edital de 2022 e tem coordenação da UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais], mas que conta também com a participação de vários estudiosos em leveduras não só do Brasil, como também de instituições no exterior, além do nosso grupo aqui da Ufal”, ressaltou a docente.
Rede
Além desses projetos, os pesquisadores da Ufal também vão integrar uma rede criada recentemente, chamada de Manguebits, que envolve instituições nacionais e internacionais para o estudo e a restauração inteligente de manguezais utilizando micro-organismos.
A iniciativa contará com a participação de alunos de graduação e pós-graduação da Ufal.
“No nosso grupo, a integração é feita por meio da orientação e da participação efetiva dos nossos discentes, tanto alunos Pibic [Programa de Bolsas de Iniciação Científica], quanto alunos de mestrado e doutorado dos PPGs [Programas de Pós-graduação] que faço parte. Além disso, os alunos têm participado de publicações de alto impacto e colaborações com outros pesquisadores e instituições de ensino e pesquisa do Brasil e do exterior”, complementou Landel.
Para Victor Tavares, estudante do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas pela Ufal, integrar o laboratório coordenado pela professora Melissa Landel e ter a oportunidade de colaborar com pesquisas de alto impacto para a região Nordeste e para o país contribui de forma significativa para a sua formação como professor e como pesquisador.
“Integrar um laboratório modifica muito a sua visão e o que você pensa sobre o que é ciência, principalmente para os estudantes de licenciatura, porque permite a integração entre o que a gente vê na teoria e o que é desenvolvido aqui dentro. A gente começa a ler mais, a aprender mais, a interpretar mais e começa a entender processos que antes de fazer parte do laboratório não conseguíamos entender”, relatou Victor Tavares.