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Do turismo religioso à Rota da Cachaça, Agreste diverso busca lugar ao sol

Região se fortalece com a Instância de Governança e recebe investimentos públicos e privados
Turismo religioso é uma das rotas mapeadas na região, nos municípios de Palmeira dos Índios, Limoeiro de Anadia e Arapiraca (foto: Diego Wendric/Ascom Palmeira dos Índios)

Turismo religioso, gastronômico, de experiência, de negócios e eventos… O Agreste alagoano é diverso, um oásis de opções para os viajantes e de oportunidades para os empresários que atuam na cadeia produtiva do turismo. Novos investimentos e produtos, a exemplo da Rota da Cachaça, já despontam e mostram potencial.

A atividade turística ganha força e organização política, por meio da Instância de Governança do Agreste, que congrega o poder público e a iniciativa privada em prol do desenvolvimento econômico e social. Trata-se de importante ferramenta para o processo de regionalização do turismo e promoção do destino, que busca o merecido lugar ao sol, mesmo que um pouco afastado do mar.

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“A regionalização do turismo é muito importante para que a gente possa mostrar todos os atrativos que temos e o Agreste hoje está sendo descoberto”, comemora a presidente da Instância de Governança do Agreste e secretária municipal de Turismo de Palmeira dos Índios, Cléa Carvalho.

Cléa Carvalho: “Agreste hoje está sendo descoberto” (crédito: Severino Carvalho)

Nove municípios compõem a Instância de Governança do Agreste: Palmeira dos Índios, Arapiraca, Campo Alegre, Junqueiro, Boca da Mata, Lagoa da Canoa, São Sebastião, Teotônio Vilela e Limoeiro de Anadia.

Na semana passada, o Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado do Turismo (Setur), assinou o Termo de Fomento, direcionando recursos financeiros, da ordem de R$ 77 mil, para viabilizar, de forma conjunta, a promoção do destino turístico do Agreste. A Instância da Caatinga também foi beneficiada.

“O termo de fomento vem nos ajudar a implementar políticas públicas para o desenvolvimento do turismo na região, a divulgá-la e a nos dar a oportunidade de criar nosso plano de mídia, de participar de feiras, enfim, de mostrar nosso potencial e atrair agentes de viagens e mais turistas”, pontua Cléa Carvalho.

Representantes da Instância de Governança do Agreste durante a solenidade de assinatura do Termo de Fomento (crédito: Severino Carvalho)

A secretária de Estado do Turismo, Bárbara Braga, destaca que o Governo de Alagoas atua para promover a regionalização e a interiorização do turismo.

“É importante trabalharmos as sete regiões turísticas com um todo, porque cada uma delas tem uma singularidade e especificação de produto turístico, seja ele cultural, religioso, histórico, assim com as belezas naturais. As Instâncias de Governança, que são as entidades privadas que funcionam com os gestores de turismo regionais, estão bem felizes com essa valorização necessária para que possam fazer com que, cada vez mais, o fluxo econômico permeie todo o Estado, passando por todos os destinos turísticos que temos”, defendeu a secretária.

Sebrae mapeia três rotas no Agreste

O Sebrae Alagoas já mapeou três rotas turísticas no Agreste alagoano, juntamente com a Instância de Governança regional. São elas: a Indígena, a Religiosa e a da Cachaça.

O propósito é fomentar nos municípios a criação de roteiros regionais para a integração dessas localidades e o desenvolvimento de novos produtos, gerando melhorias turísticas e aumento da atratividade do destino.

A Rota da Cachaça está um passo à frente. Foi mapeada ainda no ano passado e já recebeu um famtour, realizado com agências de turismo da região e de Maceió.

Rota da Cachaça já recebeu famtour para divulgar o roteiro (crédito: Sebrae/AL)

Quatro cacharias integram o roteiro: Caraçuípe, em Campo Alegre; Gogó da Ema, em São Sebastião; Brejo dos Bois, em Junqueiro; e Coração da Mata, em Teotônio Vilela. Faz parte, ainda, da Rota a cervejaria artesanal Della Cruz, em Arapiraca.

“A Rota da Cachaça já está sendo vendida por agências de Maceió e da região Agreste desde janeiro. Do ponto de vista mercadológico, está se saindo muito bem. Já foi divulgada nos eventos de turismo no ano passado, a exemplo da Abav, em Recife”, revelou a analista de Mercado da Agência Sebrae de Arapiraca, Susylane Ferreira.

Evânia Albuquerque, proprietária da Agência de Viagens Emília Turismo, diz que o produto Rota da Cachaça já está na prateleira, pronto para vender.

“Agora, no próximo mês de agosto, vamos receber um famtour com um grupo de 45 portugueses, junto com os agentes de viagens de Pernambuco, Paraíba e Alagoas”, revela.

“A gente tem essa parte da degustação da cachaça e termina na cerveja artesanal, que é uma grande rota, que segura o turista, ao menos, dois dias na região. A gente não está querendo tirar o turista que busca o sol e mar, de Maceió, mas apresentá-lo a uma nova rota, um novo produto”, acrescenta.

Premiações

As cachaças que vertem dos alambiques da região Agreste se destacam pela excelência, qualidade reconhecida nacional e internacionalmente, que já rendeu mais de 60 premiações às quatro cachaçarias alagoanas, no Brasil e no exterior. Juntas, elas comercializam seus produtos nos mercados de 20 estados brasileiros.

Henrique Tenório é o proprietário da Cachaçaria Gogó da Ema, instalada em São Sebastião. Com 20 anos no mercado, a marca acumula prêmios e clientes.

Henrique Tenório, proprietário da Cachaçaria Gogó da Ema (crédito: Sebrae/AL)

“A gente já vinha vislumbrando esse potencial e quando começou a ter a Rota da Cachaça, oficialmente, passamos a receber excursões. A gente percebe que o turista se encanta com esse novo roteiro: conhecer uma fábrica, ver como é feito um produto genuinamente brasileiro, que é cachaça. E os derivados: a rapadura, o mel de engenho, os licores. Então tudo isso, ao meu ver, é um potencial que está começando a se destacar aqui no estado”, conta Henrique Tenório, que recentemente foi a São Paulo e a Minas Gerais receber mais duas premiações alcançadas com a cachaça branca, produzida pela Gogó da Ema.

“Alagoas tem esse potencial de praia e sol, e essa nova rota das cachaçarias no Agreste só tem a agregar”, aposta Henrique.

Rotas indígena e religiosa

Outras duas rotas foram mapeadas, este ano, pelo Sebrae e a Instância de Governança do Agreste: a Indígena e a Religiosa.

De acordo com o Sebrae, o roteiro do turismo religioso passa pelos municípios de Palmeira dos Índios (Santuário de Frei Damião), Limoeiro de Anadia (Santuário do Sagrado Coração de Jesus) e de Arapiraca (Cidade de Maria e o Morro Santo da Massaranduba).

Santuário de Frei Damião, em Palmeira dos Índios (crédito: Diego Wendric/Ascom Palmeira dos Índios)

Os empresários já estão recebendo a Consultoria com Hora Marcada (CHM) do Sebrae Alagoas para formatar o produto, definir valores e recepcionar os turistas.

“Vai ser feita uma programação nesses locais de cunho religioso, em parceria com as paróquias e dioceses dos municípios. Vamos trazer o famtour religioso com as agências especializadas nesse segmento para que possam comercializar o roteiro”, informa a analista de Mercado do Sebrae.

“Já o turismo de experiência, que é o indígena, consiste em trazer o turista para vivenciar a experiência indígena, suas tradições, rituais e apresentações nos municípios de São Sebastião e Palmeira dos Índios. Alguns pacotes já estão sendo comercializados”, acrescenta Susylane Ferreira.

Arapiraca

Segundo a Instância de Governança do Agreste, a rede hoteleira da região tem cerca de dois mil leitos. Inscritos no Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos (Cadastur) do Ministério do Turismo (Mtur), Arapiraca possui 18 estabelecimentos hoteleiros, com 1480 leitos. Ou seja, o município é detentor de mais de 70% das unidades habitacionais disponíveis.

A segunda maior cidade do estado se consolida como um hub de negócios, bem no coração de Alagoas. Não à toa, o forte de Arapiraca é o turismo de negócios e eventos.

“Temos várias áreas do turismo que a gente vem trabalhando arduamente, mas a identidade turística principal de Arapiraca é, de fato, o turismo de eventos e negócios”, crava a superintendente de Turismo de Arapiraca, Kika Tenório, vice-presidente da Instância de Governança do Agreste.

Um novo e importante equipamento para o turismo do município e da região deve entrar em cena no próximo ano. Trata-se do Centro de Convenções de Arapiraca. As obras já estão com mais de 80% dos serviços executados.

O espaço está sendo construído em uma área com 4,4 mil metros quadrados, no entorno do Planetário Municipal e da Casa da Ciência, no Lago da Perucaba. Serão investidos R$ 11 milhões, recursos federais do Ministério do Turismo (MTur).

“O Centro de Convenções chega para abrir muito mais esse leque, para dar uma receptividade ao que a gente realmente quer trabalhar, que é o turismo de negócios e de eventos, para uma cidade que é pujante e bem localizada geograficamente”, ressalta Kika Tenório.

O prédio terá sala de exposições, anfiteatro com capacidade para 700 pessoas sentadas, camarins, salas de conferências, banheiros, lanchonetes, amplo estacionamento com capacidade para 180 veículos e um centro de convívio urbano com paisagismo, num dos mais belos cartões-postais da cidade.

Para o prefeito de Arapiraca, Luciano Barbosa, o Centro de Convenções vai fortalecer o turismo de negócios e trazer eventos dos mais variados para o município.

Prefeito Luciano Barbosa visita obras de construção do Centro de Convenções (Ascom Arapiraca)

“Ao mesmo tempo em que estamos construindo o Centro de Convenções, já revitalizamos os espaços de lazer e convívio urbano, e também estamos executando a segunda etapa da ampliação das obras de urbanização, com o início da pavimentação asfáltica em mais de seis quilômetros no outro lado do lago”, informa o prefeito.

Palmeira dos Índios

Em Palmeira dos Índios, na região que compreende a Barragem do Bálsamo, o empresário Rolemberg Albuquerque Tenório vai iniciar, ao final deste inverno, as obras de construção do Brisa do Bálsamo Hotel Fazenda e do Brisa do Bálsamo Eco Resort (com venda compartilhada), localizados numa serra a 700 metros acima do nível do mar. De acordo com ele, serão investidos R$ 15 milhões.

O projeto, que possui área total de 100 mil metros quadrados, prevê a construção de 50 bangalôs com capacidade para hospedar até oito pessoas cada um. As unidades terão de 85 a 152 metros quadrados, dotadas de piscinas privativas. Haverá, ainda, espaço multieventos, píer e uma marina. Quando estiverem em operação, devem gerar cerca de 100 empregos diretos.

Rolemberg conta que a proposta dos empreendimentos será a de oferecer uma hospedagem de alto nível em meio à natureza, envolvendo a realização de trilhas na mata atlântica, pesca esportiva, atividades náuticas, equestres, passeio ciclísticos, culturais, dentre outros atrativos.

“Estou em Palmeira dos Índios há 30 anos. Trabalho no ramo de pré-moldados e há três anos, visitando um amigo que tem uma propriedade na Barragem do Bálsamo, fiquei encantado com a região. Comecei a estudá-la e vi que é muito propícia ao turismo de aventura, ecológico e de experiência”, conta.

“Além dessa barragem de águas calmas, que tem 7 km de lâmina d’água, temos aqui a maior reserva de Mata Atlântica do estado e as maiores reservas de orquídeas selvagens e de ipê roxo de Alagoas. São reservas particulares que vamos firmar parcerias. Enfim, estamos cercados pela natureza. À noite, por estamos a 700 metros acima do nível do mar, a temperatura já chegou a marcar 15 graus”, cita o empresário.

No caminho certo

A empresária Evânia Albuquerque não tem dúvidas de que a região turística do Agreste trilha o caminho certo que desembocará, em breve, na consolidação do destino, a exemplo do que aconteceu na capital, nos Cânions do São Francisco e nos litorais Sul e Norte de Alagoas. Para isso, aposta na perfeita sintonia entre o público e o privado.

“A gente já recebe naturalmente (turistas), embora com um fluxo menor, mas agora com esse novo termo de fomento, com essa ajuda, a gente vê que é uma via de mão dupla: o poder público investindo no privado e o privado andando com o poder público para formar, não só uma parceria, mas uma ligação que se perpetua, independentemente de governo, como política pública”, assevera.