Nesta quarta-feira, 22 de Março, Dia Mundial da Água, o Alagoas Notícia Boa (ALNB) apresenta uma iniciativa que reúne comunidades e as mobiliza para monitorar a qualidade da água de rios, córregos e outros corpos d’água das localidades onde vivem, espalhadas pelo Brasil. Trata-se do programa Observando os Rios, da SOS Mata Atlântica.
Em Alagoas, a iniciativa faz a coleta e a análise em 11 pontos localizados em seis municípios: Coruripe, Japaratinga, Jequiá da Praia, Maragogi, Maceió e Penedo. A ação conta com a participação de entidades como a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), Instituto Biota de Conservação e BiomaBrasil.
O monitoramento da água é realizado com uma metodologia desenvolvida pela SOS Mata Atlântica e que utiliza um kit de análise e indicadores de percepção para levantar o Índice de Qualidade da Água (IQA), que é um padrão internacional adotado para avaliar a condição ambiental da água doce.
Os grupos fazem a coleta e a medição da qualidade da água uma vez por mês e disponibilizam os resultados em um banco de dados na internet. Os indicadores levantados por todos os grupos de monitoramento são reunidos em relatórios técnicos anuais que formam o retrato da qualidade da água dos rios de 16 estados cobertos pela Mata Atlântica no país.
Para o biólogo Clemente Coelho, o Observando os Rios é um programa de ciência cidadã, que engaja a população para cobrar a execução de políticas públicas voltadas à melhoria da qualidade da água.
“A importância do projeto é exatamente o fato de envolver cidadãos comuns, pessoas que vão começar a entender um pouco mais sobre a importância da qualidade da água e buscar a execução das políticas públicas de saneamento básico, do tratamento do esgoto, da questão dos resíduos sólidos de uma forma geral”, pontua Clemente, cofundador do Instituto BiomaBrasil.
A entidade coordena as atividades de coleta e análise no Rio Manguaba, em Porto de Pedras, integrante da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, Litoral Norte de Alagoas. Os trabalhos serão retomados a partir do próximo mês.
Baixo São Francisco
Em Penedo, as atividades são realizadas desde 2016, coordenadas pelos professores da Ufal Taciana Kramer e Cláudio Sampaio. As ações integram o calendário dos cursos de Engenharia de Pesca e Biologia, além do Circuito Penedo de Cinema, quando os participantes são convidados a acompanhar os trabalhos às margens do rio São Francisco.
“O projeto Observando os Rios tem como objetivo atrair a atenção da sociedade para os rios. Muitas pessoas não fazem ideia de onde vem a água que consome ou o estado de conservação dela. Buscamos envolver toda a sociedade, das crianças aos adultos, inclusive os políticos para as questões do saneamento básico”, destaca Sampaio, biólogo e doutor em Zoologia.
Assim como nos outros 10 pontos analisados em Alagoas, as coletas, que são realizadas mensalmente no Porto das Balsas, Centro Histórico de Penedo, apresentam IQA regular, numa escala que varia de ótimo a péssimo.
Apesar da aparente normalidade, a condição regular das águas do Baixo São Francisco é preocupante, alerta Sampaio.
“A classificação regular é algo preocupante, pois se nada for feito – especialmente sobre o tratamento de esgotos, plantio de mata ciliar, uso racional da água no agronegócio-, logo em breve teremos problemas com o abastecimento e de saúde pública. Lançamento de esgotos, lixo, desmatamento, regulação da vazão, represamentos, aterros e espécies invasoras são os principais problemas”, aponta.
ONU
Os dados fazem parte da edição de 2023 da pesquisa “O Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica”, realizada pelo programa Observando os Rios.
Pela primeira vez, os números foram apresentados na Conferência da ONU sobre a Água, que esse ano aconteceu em Nova York, nesta quarta-feira (22), Dia Mundial da Água.
Foram realizadas 990 análises em 160 pontos de coleta de 120 rios e corpos d’água, em 74 municípios de 16 estados da Mata Atlântica, por 116 grupos voluntários.
Conforme a avaliação, os dados ressaltam a condição frágil dos recursos hídricos brasileiros neste momento de emergência climática, demandando atenção imediata dos gestores públicos e da sociedade.
Nas regiões cobertas pelo bioma Mata Atlântica, onde vivem mais de 70% da população brasileira, apenas 6,9% dos pontos analisados apresentaram água de boa qualidade. O levantamento apontou qualidade regular em 75% dos casos, ruim em 16,2% e péssima em 1,9%.
“O Dia Internacional das Águas é muito mais que festejar, mas de luta por políticas de saneamento básico, de inclusão social e conservação das bacias hidrográficas. Não há desenvolvimento sem água de boa qualidade e justiça social”, conclui Sampaio.