Biólogo e professor do Campus Arapiraca, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Alysson Wagner Fernandes Duarte já participou de três expedições na Antártica, por conta de seu estudo sobre micro-organismos no continente gelado. A terceira delas aconteceu recentemente. Durante novembro e dezembro de 2022, ele coletou amostras ambientais de solos, liquens e vegetação, para o isolamento de micro-organismos.
“Esse material é utilizado para avaliação do potencial de aplicação biotecnológica na área da saúde humana e no setor agrícola”, explicou Alysson, docente e orientador de mestrado pelos Programas de Pós-graduação em Ciências Médicas, da Faculdade de Medicina, e Agricultura e Meio Ambiente, do Campus Arapiraca.
O professor integrou a Expedição de 2022/2023, chamada de Operantar XLI.
“O que fazemos durante a expedição é essencialmente coletar amostras ambientais, trazê-las congeladas ao Brasil e fazer o processamento das amostras na Ufal. Nessa pesquisa que desenvolvemos aqui no Campus Arapiraca interagimos com pesquisadores de diferentes universidades do Brasil, como a UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais], Unicamp [Universidade de Campinas], UnB [Universidade de Brasília], Unila [Universidade Federal da Integração Latino-Americana], Unipampa [Universidade Federal do Pampa], USP, UFS [Universidade Federal de Sergipe], além das parcerias com os pesquisadores da Ufal”, relatou o docente.
O início
Alysson é egresso da Ufal, na graduação e no mestrado.
“Fiz Ciências Biológicas (2007), orientado pela Ana Cristina de Lima Normande, da Fanut [Faculdade de Nutrição], e depois mestrado no programa de Pós-Graduação em Nutrição, orientado por Ana Maria Queijeiro López, do IQB [Instituto e Química e Biotecnologia]. Pesquisava microbiologia de produtos apícolas, principalmente mel de abelhas nativas e africanizadas. Ao final do mestrado estava analisando onde faria doutorado e fui a um Congresso de Ciência de Alimentos na Unicamp. Visitei alguns laboratórios e, dentre eles, o da pesquisadora Lara Durães Sette, que estava iniciando as pesquisas com a Antártica e me apresentou essa possibilidade”, narrou o professor.
Ele participou da seleção do doutorado em 2010, pelo Programa de Pós-graduação em Biotecnologia da USP.
“Comecei os trabalhos com a Antártica, orientado pela professora Lara e, desde então, continuo pesquisando micro-organismos daquele continente. Em 2013 fui pela primeira vez à Antártica, ainda durante o doutorado. Em 2016 ingressei na Ufal, Campus Arapiraca, como docente do curso de Medicina. Como docente, já fui em duas expedições, em 2017 e agora essa última, no final de 2022”, pontuou Alysson.
Programa Antártico Brasileiro
A Antártica é a região mais fria da Terra. O continente é descrito no site do Programa Antártico Brasileiro como “o continente dos superlativos: o mais alto, o mais ventoso, o mais frio, o mais seco e o mais inóspito”.
O Programa tem 41 anos e é coordenado pela Marinha do Brasil, Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e CNPq, com participação de várias universidades brasileiras.
“A Ufal é uma colaboradora do projeto MycoAntar, que estuda a micologia Antártica, coordenado pelo pesquisador Luiz Henrique Rosa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)”, completou o Alysson.
Estudo similar
A pesquisa da microbiologia Antártica faz um estudo similar com a Caatinga de Alagoas.
“Apesar de distantes, são ambientes com características similares como o estresse hídrico, a Antártica sendo um deserto frio e a Caatinga um deserto quente. Os dois últimos editais de pesquisa que aprovamos, no CNPq e Fapeal, foram com essa perspectiva, a de aproximar esses ambientes distantes através da avaliação do potencial biotecnológico dos microrganismos isolados deles”, explicou Alysson.
O estudo se volta para a produção de enzimas por leveduras de líquens da Antártica.
“Temos trabalhado com produção de enzimas, pigmentos, aplicação agrícola e atividade contra Leishmania, em parceria com as professoras Magna Moreira e Aline C. de Queiroz, dos campi da Ufal em Maceió e Arapiraca, respectivamente. As principais linhas de frente do que temos pesquisado nos micro-organismos da Antártica são: prospecção de enzimas, produção e avaliação de pigmentos microbianos e aplicação agrícola”, informou Alysson.
As pesquisas envolvem alunos de doutorado, mestrado e iniciação científica dos programas Pibic e Pibiti.
“Destaco também que as possibilidades de pesquisa na Antártica são variadas e os micro-organismos representam novas fontes de recursos biológicos para diferentes usos pelo ser humano, seja no campo da saúde, seja no setor agrícola. Por fim, estudar a Antártica é importante para alertamos para a preservação do ambiente, visando conscientizar a população da riqueza biológica que existe naquele continente”, finalizou o professor.