Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, nos deixou nesta quinta-feira (29), aos 82 anos de idade. Junto ao substantivo próprio, entretanto, lá sempre estará o adjetivo eterno. E é assim que será lembrado o melhor jogador de futebol de todos os tempos: não só pela sua habilidade incomum com a bola, mas também pelo legado que deixou com atitudes e palavras que reverberaram mundo afora, em defesa da paz e da justiça social.
Ao marcar o milésimo gol diante do Vasco, em 19 de novembro de 1969, no Maracanã, Pelé fez seu discurso mais marcante, preocupado com a infância brasileira.
“Pelo amor de Deus, olha o Natal das crianças, olha Natal das pessoas pobres, dos velhinhos cegos. Tem tantas instituições de caridade por aí. Pelo amor de Deus, vamos pensar nessas pessoas. Não vamos pensar só em festa. Ouça o que eu estou falando. É um apelo, pelo amor de Deus. Muito obrigado”, disse Pelé.
Cinquenta anos após marcar o milésimo gol, Pelé revelou à ESPN que repetiria o pedido.
“A mesma coisa. Infelizmente estamos pedindo a mesma coisa. São novas crianças, mas temos de pedir a mesma coisa”.
Em 1969, o Santos de Pelé parou uma guerra civil na Nigéria, ao jogar uma partida amistosa em Benin City. Um cessar-fogo foi decretado para que a equipe se deslocasse do hotel para o estádio com segurança.
E a paz se fez por 90 minutos para que inimigos declarados pudessem ver “Sua Majestade” jogar.
Carta a Putin
Mais recentemente, em carta ao presidente Vladimir Putin, Pelé pediu o fim da invasão russa à Ucrânia. O apelo aconteceu em meio à partida da seleção ucraniana contra a Escócia pelas Eliminatórias da Copa do Mundo do Catar, em junho.
“Eu quero utilizar a partida de hoje como uma oportunidade de fazer um pedido: pare com essa invasão. Não existem argumentos que justifiquem a violência”, escreveu o tricampeão mundial de futebol, em carta publicada no Instagram.
Pelé classificou o conflito como “perverso e injustificável”, assim como todos os outros, que nada traz, além de dor, medo, terror e angústia. “Não há razão para que ele perdure ainda mais tempo”.
O Rei do Futebol recordou do encontro em Moscou que teve com Putin, em 2017, durante a Copa das Confederações, torneio que precedeu a Copa do Mundo da Rússia realizada um ano depois.
“Quando nos conhecemos no passado e trocamos um grande sorriso acompanhado de um longo aperto de mão, era inimaginável que poderíamos um dia estar tão divididos quanto estamos hoje”, lembrou.
Pelé relatou, ainda, ter vivido oito décadas, nas quais testemunhou guerras e disse ter visto líderes bradando ódio em nome da segurança do próprio povo. “Não podemos regredir a esses tempos”, conclamou, revelando uma promessa.
“Anos atrás, eu prometi para mim mesmo que, enquanto eu conseguir, sempre levantarei minha voz a favor da paz. O poder de dar um fim a este conflito (na Ucrânia) está nas suas mãos. As mesmas que apertei em Moscou, no nosso último encontro em 2017”, finalizou Pelé.
Ativismo em Alagoas
O jornalista Wellington Santos, em uma série especial publicada pela Agência Alagoas, recorda que em uma das quatro passagens de Pelé por terras alagoanas, o Rei do Futebol esteve em União dos Palmares, em 1995.
Na ocasião, ele participou de um evento de afirmação racial, ao comparecer ao Tricentenário de Zumbi dos Palmares, no dia 20 de novembro daquele ano. Pelé, à época, era ministro dos Esportes no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC).
Na sua quarta e última passagem por Alagoas, em 25 de junho de 2010, Pelé fez um sobrevoo com o então governador Teotônio Vilela para ver os estragos provocados pelas enchentes que deixaram um rastro de mortes e 70 mil desabrigados no Estado.
Naquele ano, o Rei Pelé reinaugurou as melhorias no estádio que leva seu nome, em Maceió.